21/03/2022

SXSW 2022: a relação do agro com o maior festival de inovação do mundo

SXSW 2022: a relação do agro com o maior festival de inovação do mundo

SXSW 2022 - FORBES Alexander Spatari_Gettyimages

Leia mais em: https://forbes.com.br/forbesagro/2022/03/sxsw-o-agro-no-maior-evento-de-tecnologia-do-mundo/

 Confira por que o maior festival de inovação do mundo também passa pelo campo, em busca de respostas para os desafios na produção de alimentos. O futuro da comida contou com 150 palestras e 12 eventos no SXSW.

 Termina hoje (18), na cidade de Austin, no Texas, a South by Southwest (SXSW), um dos mais longevos e famosos festivais de inovação do mundo. A Forbes Brasil esteve presente e vários conteúdos estão disponíveis no site, na sessão ForbesTech.

 Pessoas de todos os matizes ideológicos, políticos, culturais e profissionais se encontraram nos inúmeros espaços dedicados a investidores, amantes da tecnologia, cinema, arte, design e, cada vez mais, um público engajado nos caminhos de como o mundo resolverá um dos desafios mais prementes da humanidade: a segurança alimentar, para que não falte comida, e a saudabilidade dos alimentos que vão para a mesa. O maior festival de inovação do mundo também passa pelo campo. 

  Foram cerca de 150 palestras e 12 eventos paralelos dos mais diversos. Como a exibição de filmes, entre eles Gather, que mostra o resgate da cultura alimentar dos nativos norte-americanos, a desafios sociais na compreensão dos processos de produção alimentar em larga escala. “Sempre somos abordados por pessoas que nos perguntam, você pode explicar o movimento da comida indígena? E isso me intriga. Porque um movimento pressupõe que há um começo e um fim. Mas sempre estivemos aqui, estaremos aqui depois, quando todas essas conversas terminarem”, disse em uma mesa de discussões, A-Dae Romero-Briones, diretora do Native Agriculture and Food Systems, programa do First Nations Development Institute, parceiros na realização do filme. “Em algum momento, nos desconectamos de nossas histórias, assim como nos desconectamos de nossos alimentos”, afirmou A-Dae. “Nós nos tornamos essas máquinas de contagem de nutrientes e calorias… temos que reconhecer que somos todos histórias vivas e respirando.”

 Em outra mesa, exatamente sobre estar no campo, um público atento ouviu Soren Bjorn, presidente da Driscoll’s, maior produtora de frutas dos EUA, como morangos, mirtilos, framboesas e amoras, com sede na Califórnia, negócio de um século e na quarta geração familiar. Bjorn foi convidada para a exibição de  “The Last Harvest”, filme lançado recentemente. “Se você refletir sobre os últimos dois anos vivendo essa pandemia, a realidade é que há comida nas prateleiras [do supermercado] todos os dias. E isso só foi possível pelo fato de os trabalhadores agrícolas aparecerem para trabalhar todos os dias”, disse Bjorn. Sem o trabalhador agrícola, o setor  – e a indústria de grãos em particular – não pode existir, argumenta o executivo.

 Ele falou sobre o papel essencial que os trabalhadores rurais desempenham no sistema alimentar, a escassez global de mão de obra e o desafio de manter uma fazenda em alto nível tecnológico. “É por isso que criamos o documentário: para desafiar todos nós a fazermos esse debate.”

 O The Future of Food Festival SXSW, ou “O futuro da comida no SXSW 2022” foi organizado pela  Food Tank, organização que reúne uma comunidade global de cerca de 50 instituições “em busca de alimentos seguros, saudáveis e nutritivos”.  Dentro do espírito do evento, tecnologias e inovações tomaram a maior parte da agenda. De novas formas de se alimentar, proteção da natureza, máquinas e manejos que vão pautar as empresas e produtores rurais. 

 Por exemplo, “O futuro da tecnologia começa na fazenda” foi uma das mesas do dia 12 de março, sobre os 9,7 bilhões de pessoas no mundo em 2050. Jahmy Hindman, diretor de tecnologia na John Deere desde julho de 2020, foi um dos convidados. Ele colocou como aproveitar a tecnologia avançada e a autonomia para fazer mais com menos, utilizando IA, robótica e outras tecnologias que podem ajudar os produtores a gerenciar suas lavouras e tornar as safras cada  vez mais produtivas. Ou seja, como a tecnologia pode tornar uma fazenda autônoma para avançar de forma sustentável na produção de alimentos.

 São temas que impactam, principalmente a indústria do alimento. Sobre o mundo corporativo, Julie Kunen, diretora de sustentabilidade da Oatly nos EUA, empresa sueca de alimentos, falou que “as empresas podem regenerar a agricultura”. São as tecnologias sustentáveis nas mãos dos agricultores que darão as respostas que o mundo busca.

 Mas os caminhos nem sempre são lineares. Robert Nathan Allen, diretor-executivo da Little Herds, organização educacional sobre benefícios nutricionais e ambientais sobre insetos comestíveis e a agricultura desses insetos, falou sobre disrupções na alimentação, principalmente para as sociedades ocidentais. Em 2014, Allen trabalhou com o Aspire Food Group para iniciar a primeira fazenda de insetos comestíveis no Texas. A pandemia de Covid19, um tema recorrente, voltou nessa mesa: “pandemia da Covid19 mudou o foco de “alimentar pessoas com insetos” para “alimentar pessoas e ponto final”. 

 As várias maneiras de incluir proteínas na dieta, além das carnes e lácteos como conhecemos hoje, pautou discussões sobre a recente explosão de alternativas lácteas de plantas, aveia e nozes, proteínas de soja, cogumelos, algas e, claro, os insetos. O futurismo foi, também, recorrente nas mesas, como a agricultura celular. 

 Não por acaso, Emily Ma, engenheira mecânica e head da Food Google, que lidera uma  equipe multifuncional para organizar as informações sobre alimentos do mundo, foi uma das presenças aguardadas. Na sessão em “futuras interseções de alimentos, tecnologia e cultura”, ela falou sobre “como podemos aprender com o passado para criar tecnologias que desbloqueiem um sistema alimentar mais justo, equitativo, sustentável e escalável” (Forbes, 18/3/22)

 


Afinal, o que atrai tantos brasileiros ao SXSW?

Legenda: Detalhe do Blockchain Creative Labs, espaço interativo do evento. Foto: Divulgação

 Com edições físicas suspensas por dois anos e um novo dono, festival de inovação volta a reunir delegações de todo o mundo no Texas. Em 2018 e 2019, anos que o SXSW ocorreu de forma presencial, o Brasil foi a maior comitiva estrangeira levando mais de 1,6 mil pessoas

   Em março de 2020, três dias após a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter decretado a pandemia da Covid-19, o South by Southwest (SXSW), festival de inovação realizado em Austin, no Texas, que começou na sexta-feira, 11, e vai até o dia 18,  decretava suspensa sua edição às vésperas do primeiro dia. O cancelamento do evento, bem como o impacto financeiro na empresa responsável, fez com que o festival passasse por dificuldades o que culminou, em abril de 2021, na venda de 50% das ações para a PMRC, dona das revistas Rolling Stone e Billboard.

 Após dois anos sem versão presencial, o SXSW retornou em 2022 com muitas expectativas. Para Austin esse é o momento mais importante, já que são gerados mais de US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões) em receitas para a cidade. Líder dentre as comitivas estrangeiras nas últimas edições, o Brasil perdeu o posto desta vez para o Reino Unido. No entanto, segue sendo o destino de muitos profissionais brasileiros em busca de tendências, além de startups que têm na área de inovação e tecnologia uma plataforma importante de visibilidade e negócios.

 Antonio Camarotti, publisher da Forbes Brasil, que acompanha o evento presencialmente há alguns anos, reforça o crescimento notável do festival em relação às edições anteriores. “Quando estive pela primeira vez, em 2014, eu já achava que era um dos eventos com maior quantidade de conteúdo. Acompanhei nos anos seguintes um crescimento considerável, mas neste 2022, tudo está maior e isso é muito representativo, principalmente pelo fato de ser o primeiro grande evento presencial no pós-pandemia”, afirma.

 Etienne Du Jardin, cofundadora e CPO da startup de live-commerce Mimo, que mantém um estande nesta edição, explica que o SXSW possibilita a discussão e a compreensão de inovações e maneiras diferentes de se fazer negócios. “Um ambiente onde algumas das mentes mais inquietas do mundo estão dispostas a trocar e dividir sobre diferentes abordagens para os assuntos do nosso cotidiano. Ou seja, um espaço fértil para insights de negócios e novas ideias. A música, o cinema, a tecnologia, as novas metodologias e a cultura que cada parte do mundo traz para mesa nas discussões. Acredito que, além dos brasileiros gostarem do evento para aprender, cada vez mais pessoas estão indo ao SXSW para mostrar que nosso país também é um polo de criatividade, tecnologia e inovação”, afirma a executiva.

 Olhar para o futuro

Uma das principais características do SXSW, apontadas pelos participantes, é a capacidade do evento de reunir em seus palcos grandes tendências. Ana Paula Passarelli, fundadora da agência de influência Brunch, explica que o investimento dos brasileiros vem de várias motivações. “Eu sou a líder de uma empresa da creator economy e estou sempre atenta para onde o farol está apontando. E esse farol vem mostrando caminhos para a Web3. Aqui mora um desejo de descobrir como a descentralização da internet vem se desenhando e como poderei atuar de maneira assertiva, propositiva e democrática nela, ajudando todos os nossos clientes a fazerem a travessia da Web 2.0 para a Web3 da melhor maneira possível.”

 Ana Paula também reforça a importância trazida pelo festival sobre o equilíbrio entre tecnologia e o humano. “Busco por parceiros e referências que expressam de maneira equilibrada como a tecnologia pode ser nossa melhor aliada e não uma inimiga. Como a fundadora de uma martech, busco para nossa operação de marketing de influência não cair no mesmo erro que tantas outras empresas caíram oferecendo escala desmedida para um serviço onde o olhar humano é importante para encontrar influência de verdade.”

 Franklin Costa, fundador do hub de inovação OCLB, que envia comitivas para o SXSW há mais de dez anos, ressalta que existe uma linha transversal de interesses. “Diversas indústrias, executivos e empreendedores vão até o SXSW para descobrir novidades e oportunidades, se atualizar e ampliar seus repertórios, a prova é a quantidade de palestras e lives no estilo download que acontece após o festival, ou o fato do festival criar neste ano uma nova track chamada 2050. Em um segundo nível, existem os interesses específicos de cada indústria ou setor. Empreendedores da área de tecnologia buscam investidores e assuntos relacionados à startups e à track Tech Industry. Profissionais de marketing e comunicação vão até o SXSW para se relacionar com clientes, pesquisar ativações de marcas e conferirem os conteúdos de tracks como Advertising & Brand Experience e Design. Esse último grupo, tradicionalmente, é o maior entre os brasileiros nos últimos anos de SXSW”.

 

Marketing e publicidade

Além de profissionais de startups, o SXSW também atrai o mercado publicitário brasileiro, como sinalizou Franklin Costa. Douglas Nogueira, diretor de planejamento da agência Talent Marcel, reforça que o apetite do Brasil pelo futuro contribui para um número considerável de comitivas brasileiras por lá. “O fato desse futuro parecer nunca chegar, também nos mantém em uma eterna busca para encontrá-lo. É preciso fazer uma ponderação aqui, olhar para o futuro é uma posição de privilégio, infelizmente, e não corresponde à realidade da maioria dos brasileiros que estão focados em resolver problemas básicos do presente. Consciente da minha posição de privilégio e responsabilidade, o futuro sempre esteve conectado, para mim, em melhorar a vida das pessoas. De uma forma mais inteligente, mais barata, mais rápida. É sobre negócios, mas em um país como o nosso, não pode ser só sobre isso. Usar a tecnologia para dar escalas aos negócios e piorar a vida das pessoas nos mantém presos em um passado que nos condena. E o SXSW também traz essas provocações” (Forbes, 14/3/22)