03/12/2021

Tempestade perfeita no campo provoca queda recorde do PIB da agropecuária

Tempestade perfeita no campo provoca queda recorde do PIB da agropecuária
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Crise hídrica, geadas e produtividade menor provocam recuo de 9% no desempenho do setor no terceiro trimestre.

Por Mauro Zafalon

Responsável pela coluna Vaivém das Commodities, é formado em jornalismo e em ciências sociais.

A agropecuária prometia dar um novo impulso ao PIB (Produto Interno Bruto) neste ano, mas chega ao terceiro trimestre como um dos principais entraves ao crescimento geral da economia.

O setor tem uma queda recorde de 9% para esse período, em relação ao terceiro trimestre de 2020, e acumula recuo de 0,1% no ano.

Os dados foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira (2). O instituto mostra que o PIB geral cresceu 4% de julho a setembro, em relação a igual período do ano passado.

O resultado da agropecuária é ruim porque o setor viveu uma tempestade perfeita nesta safra. No setor agrícola, plantio atrasado, crise hídrica e geadas impediram a supersafra esperada para 2021.

GADO Foto Martin Zabala - Xinhua

Ao contrário, o setor termina o período da safra 2020/21 com apenas 251 milhões de toneladas de grãos, nos números do IBGE.

A pecuária, outro setor importante na formação do PIB, também não teve seus melhores dias. Os dados mais recentes do IBGE indicam que os abates de bovinos deste terceiro trimestre foram 11% inferiores aos de igual período do ano passado.

Além de ser afetada pela seca, a pecuária teve uma forte redução de animais para abate, o que elevou os preços internos, ajudados ainda pela demanda chinesa.

A captação de leite caiu 5,1% no trimestre, e a produção de ovos, um substituo às carnes, recuou 2,5%. Já os setores de suinocultura e de avicultura, incentivados pelas exportações, aumentaram os abates no período.

seca e as diversas geadas que afetaram as lavouras frustraram a perspectiva de uma grande safra, principalmente nos produtos de inverno. Com isso, acabaram afetando o desempenho do PIB agropecuário neste terceiro trimestre.

milho foi um dos principais destaques nessa quebra, com redução de 21% na produção no período da safrinha, a de maior volume para o país. Isso reduziu a safra total do ano em 17 milhões de toneladas, em relação à anterior, conforme os números do IBGE.

A redução de 32% na produção de café arábica também pesou muito na formação do PIB agrícola. A cultura, além de ser afetada por geadas, o que deverá refletir ainda mais na safra de 2022, passou pela bienalidade negativa. Ou seja, após uma safra abundante, como foi a de 2020, as árvores perdem força e produzem menos no ano seguinte.

 O grande problema da safra deste ano foi a perda de produtividade. No caso do milho semeado na safrinha, a redução foi de 26,5%, enquanto a produtividade do café arábica recuou 28,5%.

O algodão, outro importante componente da safra agrícola neste período do ano, teve uma redução de 17% na produção e de 2% na produtividade. O volume colhido foi reduzido para 5,85 milhões de toneladas do produto em caroço.

cana-de-açúcar, também afetada por seca e por geadas, teve uma perda de 7,6% na produção, que recuou para 626 milhões de toneladas, e de 5,2% na produtividade.

Já a laranja, conforme as previsões feitas em outubro pelo IBGE, perde 14% na produtividade e no volume produzido.

O destaque positivo neste período do ano ficou para o trigo, cuja produção deverá atingir 7,83 milhões de toneladas, 26% a mais do que em 2020.

O PIB agropecuário ficará distante da projeção de 3%, prevista no início do ano. O quarto trimestre não tem nenhum fator de peso como influência positiva, à exceção dos setores de carnes suína e de aves.

O consumo interno e as exportações dessas duas proteínas devem melhorar neste quarto trimestre, devido à demanda do final de ano, mas o setor de bovinos continua com restrições na oferta.

A agropecuária conseguiu uma participação importante de 6,8% na formação do PIB brasileiro em 2020. Esse percentual, porém, não deverá ser mantido em 2021 (Mauro Zafalon é responsável pela coluna Vaivém das Commodities, é formado em jornalismo e em ciências sociais Folha de S.Paulo, 3/12/21)


Entenda a queda de 8% da agropecuária no PIB

Secas, geadas e fim da safra de soja influenciaram resultado.

queda da agropecuária no PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre reflete uma combinação de fatores que inclui efeitos sazonais, base de comparação elevada e prejuízos do clima adverso no país, indicou nesta quinta-feira (2) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O setor caiu 8% na comparação com os três meses imediatamente anteriores. É a maior redução desde o primeiro trimestre de 2012, quando houve tombo de 19,6%. Com o impacto negativo do campo, o PIB nacional recuou 0,1% entre julho e setembro.

Segundo o IBGE, a baixa da agropecuária reflete, em grande parte, o fim da safra de soja, que também impactou exportações. A colheita da principal commodity agrícola do país está mais concentrada nos dois primeiros trimestres do ano.

Assim, a produção do setor tende a ficar menor a partir de julho, explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

No terceiro trimestre, o Brasil também amargou períodos de seca e geadas. Em conjunto, os fatores extremos prejudicaram o plantio e a produtividade de vários segmentos, incluindo café, milho e cana-de-açúcar.

"A agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu no período de pandemia e, para este ano, as perspectivas não foram tão positivas, em ano de bienalidade negativa para o café e com a ocorrência de fatores climáticos adversos na época do plantio de alguns grãos", apontou a analista do IBGE.

O pesquisador Felippe Serigati, do centro de estudos FGV Agro, também chama atenção para o impacto do clima no desempenho do setor. "Isso pegou trigo, milho, café e hortaliças, por exemplo."

Segundo o especialista, o cenário para a agropecuária tende a ser mais positivo em 2022, a partir de melhores condições climáticas. Por outro lado, o pesquisador relata que o setor deve seguir pressionado por questões como a alta dos preços de parte dos insumos. Entre eles, estão adubos e fertilizantes.

"Os mapas meteorológicos são mais favoráveis para 2022, mas é óbvio que isso pode mudar. Não estamos totalmente tranquilos. Também temos dificuldades de acesso a algumas mercadorias, como fertilizantes", aponta.

Nesta quinta, o Ministério da Economia relacionou a queda do PIB às condições do clima.

"É fundamental distinguir o que é política econômica de fatores climáticos adversos e pontuais da natureza", afirmou a SPE (Secretaria de Política Econômica), vinculada à pasta.

"A maior crise hídrica em 90 anos de história e a ocorrência de severas geadas tiveram impacto tanto em setores intensivos em energia como em setores que dependem do clima, como agricultura", diz (Folha de S.Paulo, 3/12/21)