Tiro pela culatra: etanol polui mais do que gasolina?
ETANOL DE MILHO Foto Shutterstock
Por Boris Feldman
Pesquisa nos Estado Unidos revela que o álcool obtido do milho pode emitir 24% mais carbono; no Brasil, cenário é diferente
A gasolina vendida nos postos norte-americanos contém 10% de etanol produzido a partir do milho, a chamada “gasohol”. Entretanto, este álcool pode poluir mais que a gasolina, de acordo com estudo publicado esta semana nos EUA pela Academia Nacional de Ciências e contraria uma pesquisa anterior solicitada pelo Departamento de Agricultura dos EUA, que revelou o etanol e outros biocombustíveis razoavelmente “verdes”.
De acordo com o Dr. Tyler Lark, cientista do Madison Center for Sustainability and Global Environment, da Universidade de Wisconsin e que liderou a pesquisa, “Etanol de milho não é um combustível amigo da atmosfera”.
A pesquisa revelou (rigorosamente ao contrário do que afirma…) que o álcool emite cerca de 24% mais carbono que a gasolina devido às emissões geradas pelas mudanças do solo para a plantação do milho, dos fertilizantes, e dos demais processos de obtenção e combustão.
Geoff Cooper, presidente da Associação dos Combustíveis Renováveis, imediatamente botou a boca no trombone e disse que este estudo é “uma completa ficção e distorcido”, argumentando que “seus autores escolheram a dedo as piores hipóteses”.
Uma legislação norte-americana de 2005 exige dos refinadores de petróleo a mistura anual de 68 bilhões de litros de etanol de milho na gasolina disponível nos postos. O propósito seria reduzir emissões e a dependência de combustível importado e o resultado foi um crescimento de 8,7% no cultivo do milho e da área cultivada entre 2008 e 2016, com mudanças no uso de terras agrícolas que seriam desativadas ou destinadas a outras finalidades.
Um estudo de 2019 amplamente citado pela indústria de biocombustíveis revelou que a intensidade de carbono do etanol era 39% menor que a gasolina, em parte devido ao sequestro de carbono associado ao desenvolvimento de novos plantios.
“Mas essa pesquisa subestimou o impacto das emissões da conversão de terras”, disse o Dr. Lark.
E o etanol de milho no Brasil?
Guilherme Nolasco, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM) explica que esta pesquisa não tem validade no Brasil pois nossas condições do plantio no Brasil são completamente diferentes dos EUA e impossível comparar as emissões provocadas aqui e lá. Por dois motivos:
- Nosso etanol é obtido de um milho chamado “de 2ª safra”, plantado nas entre-safras da soja. Isto significa que, ao contrário dos EUA, não há movimentação de solo e adição de mais fertilizantes (como o nitrogenio), pois o milho é plantado imediatamente após a colheita da soja;
- A geração de energia térmica para o processo de obtenção (caldeiras) do etanol se utiliza de gás nos EUA, enquanto no Brasil o combustível são cavacos de madeira.
O etanol utilizado como combustível no Brasil se divide em 13% do milho e 87% da cana. Das 115 milhões de toneladas de milho produzidas, 20 milhões são exportadas, 8 milhões para o etanol e 87 milhões de toneladas para consumo doméstico.
O percentual de milho transformado em álcool gera impostos, empregos, renda e ainda tem o farelo como subproduto. As projeções de Nolasco indicam um aumento da participação de seu álcool de 13 para 20% do total da produção até 2030.
E o balanço das emissões do etanol são amplamente favoráveis ao meio ambiente. Sua combustão gera apenas 1/3 de CO2 em relação à gasolina. E mesmo este reduzido volume é anulado pelo sequestro do CO2 durante o crescimento da planta.
No Brasil, a gasolina contem 27% de etanol (25% no caso da Premium) produzido a partir do milho e da cana (AutoPapo, 16/2/22)