Trigo: Análise Conjuntural Agromensal Cepea/Esalq/USP Dezembro/22
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RETROSPECTIVA DE 2022:
Mesmo diante de colheita recorde de trigo no Brasil, os valores de negociação do cereal operaram em patamares máximos da série histórica do Cepea em 2022 – em algumas regiões, as cotações atingiram recordes reais. No contexto global, diversos fatores resultaram em diminuição, pelo segundo ano consecutivo, na relação estoque final/consumo mundial.
Assim, a demanda interna seguiu ativa, superando a oferta e elevando os preços do cereal. No primeiro semestre de 2022, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia restringiu novos embarques pelo Mar Negro, sendo que estes dois países foram responsáveis por 30% das exportações mundiais de trigo de 2018/19 a 2021/22.
Na segunda metade do ano, o clima prejudicou a produção da União Europeia, Índia e Argentina, e a Ucrânia limitou o cultivo do cereal. No Brasil, no início de 2022, poucos produtores e compradores estiveram ativos. Enquanto o vendedor apenas avaliava o mercado, agentes de moinhos se mostravam abastecidos. Ainda assim, os preços internos do cereal subiram.
A partir do final de fevereiro, agentes do setor tritícola estavam focados em entender os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre os mercados de grãos e cereais. Analisando o conflito, produtores no Brasil entenderam que as reações positivas de preços poderiam ser um fator atrativo para a nova safra, a ser cultivada.
Em abril e maio, agentes brasileiros estiveram atentos ao início da semeadura no País. Em julho, as atenções estavam focadas nas atividades de campo, tanto na colheita e no clima no Hemisfério Norte quanto nas projeções de safra e plantio para o Hemisfério Sul. As cotações internas seguiram em alta até julho, impulsionadas pela baixa oferta doméstica e por preocupações quanto à menor oferta mundial.
Em termos reais (os valores mensais foram deflacionados pelo IGP-DI), os preços médios de julho foram recordes no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Em termos nominais, as médias estaduais atingiram as máximas no Paraná e em São Paulo. No Brasil, a semeadura da safra de trigo foi encerrada em agosto, e, até aquele período, as negociações ocorreram apenas quando agentes tinham maior necessidade, tendo em vista os elevados preços internos.
Em agosto e setembro, os valores recuaram, diante de expectativas apontando produção recorde e do início da entrada da safra 2022/23 em setembro. Em outubro, a atenção esteva voltada ao avanço da colheita no País e à qualidade do cereal. No último mês do ano, as cotações nacionais recuaram, acompanhando a baixa internacional e também influenciada pela alta disponibilidade de trigo no mercado interno, tanto de importação quanto da safra nacional recorde.
Para o Brasil, a Conab estimou que a safra atingiu 9,55 milhões de toneladas, alta de 24,4% frente à temporada 2021/22 e um recorde. Tanto a área quanto a produtividade cresceram em 2022 frente ao ano anterior. As estimativas apontam o Rio Grande do Sul como o maior produtor nacional de trigo, e o cereal colhido apresentou alta qualidade. No Paraná, a safra foi fortemente prejudicada pelo clima.
Quanto aos preços, dados do Cepea mostram que, de 2021 para 2022, os valores médios do trigo no mercado de lotes (negociação entre empresas) subiram 21,8% no Rio Grande do Sul, 20,7% em Santa Catarina, 20,2% no Paraná e 18,4% em São Paulo. O valor pago ao produtor registrou alta de 18,8% no ano.
BALANÇA COMERCIAL
O volume exportado de trigo em 2022 foi significativo, elevando a importância do Brasil no mercado internacional. De acordo com a Secex, no primeiro semestre, o volume exportado foi de 2,6 milhões de toneladas, enquanto no segundo semestre (com dados preliminares de dezembro), de 608,3 mil toneladas de trigo, totalizando 3,2 milhões de toneladas no ano, contra 1,13 milhão de janeiro a dezembro de 2021.
Ressalta-se que a balança comercial do trigo foi superavitária em janeiro, fevereiro, março e dezembro. Em relação à importação, o volume total somou 5,7 milhões de toneladas (com dados preliminares de dezembro), sendo 3,2 milhões no primeiro semestre e 2,5 milhões de toneladas no segundo.
DERIVADOS
Os preços médios do farelo de trigo subiram em 2022, devido à valorização da matéria-prima e à maior demanda, apesar de terem encerrado o ano em queda. No caso das farinhas, os preços subiram, influenciados pelos repasses contínuos dos maiores custos do trigo.
INTERNACIONAL
Em março, o mercado internacional de trigo esteve apreensivo, diante das restrições das exportações do cereal pela Ucrânia e pela Rússia. Com isso, as cotações do trigo nas bolsas de futuros norte-americanas atingiram patamares recordes. O acordo de exportação de grãos pelo Mar Negro entre Rússia e Ucrânia em julho (e sua renovação em novembro) pressionou os valores do cereal.
A Argentina, país que é o maior fornecedor de trigo ao Brasil, reduziu a estimativa de produção da temporada 2022/23, que deverá ficar em 12,4 milhões de toneladas, baixa de 10 milhões de toneladas na comparação com a safra passada, segundo informações da Bolsa de Cereales. Os preços FOB no porto de Buenos Aires aumentaram 42,1% no ano.
Mundialmente, a produção somou 779,3 milhões de toneladas de trigo na safra 2021/22, 0,6% acima da de 2020/21. O consumo foi de 793,4 milhões de toneladas, com estoque final de 276,2 milhões de toneladas. A relação estoque/consumo foi de 37,1%, para 34,8% na safra 2021/22, segundo dados do USDA divulgados em dezembro/22 (Assessoria de Comunicação, 4/1/23)