07/08/2020

Trigo: Análise Conjuntural Agromensal Cepea/Esalq/USP Julho/2020

Cresce a qualidade do trigo mineiro

Em julho, o semeio de trigo no Sul do País chegou ao fim e o clima favorável manteve agentes otimistas quanto à produção desta safra, visto que as lavouras apresentavam ótimas condições e desenvolvimento. Este contexto deve resultar em novo crescimento da produção no Paraná, maior produtor do cereal no Brasil. Já na Argentina, até o encerramento de julho, o clima estava limitando o semeio da nova safra.

 

Relatório de julho da Conab indicou crescimento de 13,7% na área com trigo no Brasil, gerando produção de 6,3 milhões de toneladas na safra 2020/21, acima das 5,7 milhões de toneladas na anterior. Essa maior produção, por sua vez, se deve à expectativa de forte aumento de 40,7% na colheita do Paraná. A Conab também estima importação de 7 milhões de toneladas e exportação, de 350 mil toneladas, ambas com recuos em relação à safra anterior. Assim, o estoque de passagem deve ser de 100,6 mil toneladas, o mais baixo dos últimos anos.

 

No Paraná, especificamente, estimativas da Seab/Deral foram reajustadas positivamente em julho, para 3,7 milhões de toneladas que, caso confirmadas, representam expressivo aumento de 72% em relação à temporada anterior. A área plantada está projetada em 1,133 milhão de hectares. Enquanto isso, na Argentina, até dia 30 de julho, os dados da Bolsa de Cereais revelam que o semeio de trigo atingiu 95,9% da área prevista, atraso de 3,3 p.p frente ao mesmo período de 2019. O excesso de chuvas em áreas no sul de Buenos Aires e o déficit hídrico e incidência de geadas no centro da área de cultivo limitam as atividades no país vizinho.

 

Com produtores atentos à nova safra, as negociações de trigo no mercado interno estiveram pontuais ao longo de julho. Dados da Seab/Deral indicam que a comercialização antecipada do cereal esteve 14,5% do volume previsto no Paraná. Em relação aos preços internos, no acumulado do mês (de 30 de junho a 31 de julho), os levantamentos do Cepea mostram que, no mercado de lotes, as altas foram de 2,5% em Santa Catarina e de 1,6% no Rio Grande do Sul. Já em São Paulo, as cotações caíram 0,8% e no Paraná, 0,3%.

 

No mesmo período, o preço do grão no mercado de balcão (valor pago ao produtor) avançou 2% no estado sulrio-grandense e 0,1% no paranaense, masrecuou 0,5% no catarinense. Quando comparadas as médias mensais de junho e julho, notam-se quedas de 2,1% em São Paulo e de 0,8% no Paraná. Já em Santa Catarina, a média de julho foi 1,6% superior à de junho e, no Rio Grande do Sul, o avanço foi 0,9%.

 

DERIVADOS

De junho para julho, as cotações médias de todas as farinhas e farelos subiram. No geral, os colaboradores consultados pelo Cepea acreditam que, com a flexibilização do comércio não essencial nas grandes metrópoles do País, os negócios devem ser reestabelecidos com mais firmeza nos próximos meses. Inclusive, agentes relatam que a demanda por farinhas destinadas a massas frescas, massas em geral e bolachas já deu sinal de reação em julho.

 

No caso dos farelos, a maioria dos moinhos consultados ainda atua com a capacidade reduzida e, com isso, limita a oferta e mantém os preços em alta. Em julho, as cotações das farinhas destinadas a massas em geral, bolacha doce, pré-mistura, panificação, massas frescas, bolacha salgada e integral subiram 3,0%, 2,5%, 2,2%, 1,6%, 1,3%, 0,96% e 0,84%, respectivamente, frente ao mês anterior. Para os farelos, houve valorização de 4,7% para o ensacado e de 3,7% para o a granel.

 

PREÇOS INTERNACIONAIS

Considerando-se as médias de junho e julho, o primeiro vencimento do trigo Soft Red Winter, negociado na CME Group (Bolsa de Chicago), se valorizou 5,3%, a US$ 5,2356/bushel (US$ 192,37/t). Já na Bolsa de Kansas, o primeiro vencimento do trigo Hard Red Winter caiu 0,15%, a US$ 4,4303/bushel (US$ 162,79/t). Conforme o relatório da USDA, a projeção para a produção mundial em 2020/21 avançou 0,58% em relação à anterior (2019/20), a 769,313 milhões de toneladas. Quanto ao consumo mundial, o aumento foi de 0,54% frente à safra anterior, a 751,593 milhões de toneladas.

 

Todavia, quando comparado ao relatório de junho, nota-se que a produção mundial caiu 0,53% e o consumo, 0,21%. Em relação aos estoques globais, estes devem recuar 0,4% frente ao relatório de junho, somando 314,84 milhões de toneladas, e a relação estoque/consumo deve permanecer a 41,9%. Ainda conforme o USDA, a decisão final sobre a isenção da Tarifa Externa Comum (TEC) no Brasil deve proporcionar uma oportunidade para os EUA, uma vez que o país poderá aumentar as exportações de trigo ao Brasil.

 

A isenção da TEC já movimentou as negociações de trigo entre o Brasil e a Rússia em julho. Conforme a SovEcon, consultoria russa de pesquisa agrícola, em julho, o país exportou pelo menos 70 mil toneladas de trigo da safra 2020/21 para o Brasil. Ainda segundo a mesma consultoria, durante toda a safra 2019/20, os embarques de trigo russo ao Brasil somaram 90 mil toneladas, grande parte negociada antes da isenção tarifária. A Rússia passou a vender o cereal para países da América do Sul na temporada 2019/20, após revisão de procedimentos fitossanitários, e o trigo russo vem ganhando espaço neste mercado, principalmente por conta dos preços mais baixos que os norte-americanos (Assessoria de Comunicação, 5/8/20)