Trigo: Análise Conjuntural Agromensal Janeiro/23 Cepea/Esalq/USP
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PERSPECTIVA DE 2023
O Brasil pode se consolidar neste ano como um importante player nas transações internacionais de trigo. Atualmente, o País é um grande importador, mas o setor nacional deve aproveitar as oportunidades postas diante da menor oferta argentina e dos problemas logísticos no Mar Negro e elevar sua participação nas exportações mundiais.
Estimativas apontam que o Brasil pode se tornar o 10º maior exportador global da commodity na temporada 2022/23. Apesar de a oferta de trigo da temporada 2022/23 continuar crescendo pelo quarto ano seguido, os estoques mundiais devem se reduzir pela terceira temporada consecutiva. Especialmente nas últimas três temporadas, enquanto o consumo mundial cresceu 5,8%, a produção aumentou apenas 2,5%.
No mesmo período, as transações internacionais avançaram 8,5%. Com isso, a relação estoque/consumo mundial deve passar para 34,1%, a terceira redução anual seguida e a menor desde 2014/15. Para esta temporada, em que a colheita já está finalizada no Hemisfério Norte e praticamente consolidada no Hemisfério Sul, o USDA prevê importantes reduções de produção na União Europeia, Índia, Paquistão, Ucrânia e Argentina.
No agregado mundial, a oferta deve crescer 0,3%, para 781,3 milhões de toneladas. Por outro lado, a situação da covid-19, os altos preços do cereal e a concorrência com a oferta de milho podem limitar a demanda pelo trigo por parte da China, Índia, Irã, Ucrânia e Estados Unidos. Assim, no agregado mundial, a demanda deve somar 789,7 milhões de toneladas, 0,3% a menos que na temporada anterior.
Mesmo assim, as transações mundiais devem crescer 2,2%, para 209,6 milhões de toneladas, representando 26,8% da produção mundial, a maior relação da história. Neste ambiente, a Bolsa de Chicago (CME Group) aponta preços firmes e em alta para os contratos com vencimento até o primeiro semestre de 2024, evidenciando que o mercado sinaliza necessidade de uma outra boa safra em 2023/24 para equilibrar os estoques mundiais.
O setor brasileiro deve sentir impacto importante da menor oferta da Argentina. A safra no país vizinho está prevista, até o momento, em 12,4 milhões de toneladas, a menor desde 2013/14, devido ao clima desfavorável. Com isso, espera-se que a Argentina exporte apenas 7,5 milhões de toneladas, contra 16,3 milhões de toneladas na temporada passada e o menor volume em nove anos (2014/15).
Para o Brasil, após atingir volume recorde em 2022, é de se esperar que a área destinada à cultura siga em crescimento, resultando em colheita elevada. Tradicionalmente, a demanda interna de trigo é atendida pelas importações. Da temporada 2001/02 até a prevista para 2022/23, as importações representaram 58,6% do consumo doméstico.
Entretanto, nas últimas três temporadas, a produção nacional superou os volumes de importação, o que tinha ocorrido em apenas seis das últimas 19 temporadas. Segundo a Conab, com a maior produção do País, a estimativa de exportação deverá ser de 3 milhões de toneladas (entre agosto/22 e julho/23), ainda 1,5% abaixo da safra passada – mas o setor nacional acredita que estes dados sejam reajustados, com crescimento no volume a ser exportado.
Com a maior produção nacional, a expectativa do volume importado foi reduzida, passando para 6 milhões de toneladas de agosto/22 a julho/23, 1,3% menor que na temporada passada. O ano de 2023 vai se iniciar com um dos maiores volumes de disponibilidade interna da história. Esse é um cenário importante, diante dos preços internacionais em alta e das dificuldades que o Brasil encontrará para importar trigo no primeiro semestre deste ano.
Com a maior disponibilidade de trigo nacional, o volume de importação foi reduzido. O volume de trigo importado de agosto/22 a dezembro/22 soma 2,02 milhões de toneladas, 15,2% inferior ao de agosto/21 a dezembro/21. A previsão é de que a produção de trigo no País continue aumentando em 2023, especialmente diante dos elevados preços praticados nos mercados interno e externo.
Desta forma, deverá seguir reduzindo, ao longo do tempo, o volume necessário importado para suprir a demanda interna, ao mesmo tempo em que se eleva o excedente exportável. O volume importado de trigo ainda é alto, e acompanhar o câmbio é fundamental, devido ao impacto direto no preço.
Utilizando-se como base as estimativas do Boletim Focus do Banco Central, o mercado espera que o dólar norte-americano não apresente desvalorização em 2023. De acordo com os dados da Secex, em 2022 (até dezembro), o preço médio das importações (Free on Board) foi de R$ 1.872,67/tonelada, contra R$ 1.452,14/t em 2021.
DERIVADOS
Em 2023, as cotações de derivados deverão continuar acompanhando o movimento do trigo. Além disso, para os farelos, deve-se ficar atento ao mercado de milho, já que são substitutos na ração animal. Ressalta-se que a menor safra na Argentina preocupa moinhos brasileiros.
JANEIRO
Os preços do trigo registraram variações distintas dentre regiões acompanhadas pelo Cepea em alguns períodos de janeiro, mas as quedas ainda prevaleceram. No Paraná e no Rio Grande do Sul, inclusive, os valores médios mensais passaram a operar nos menores patamares desde janeiro/22 e outubro/21, respectivamente, ou seja, período que antecedeu o começo dos conflitos no leste europeu – vale lembrar que a guerra resultou em forte valorização do trigo no mercado internacional.
Assim, em algumas regiões levantadas pelo Cepea, as reações nos preços, sobretudo no encerramento de janeiro, estiveram atreladas à menor oferta da Argentina, à restrição vendedora no Brasil e ao bom desempenho das exportações nacionais. Já em outras praças, as cotações, especialmente aos produtores, foram pressionadas pelo maior interesse de venda – muitos produtores precisaram liberar estoques em armazéns para a chegada da safra de verão.
Em janeiro, o valor médio no Paraná, de R$ 1.693,28/tonelada, caiu 4,3% frente ao mês anterior e foi o menor desde janeiro do ano passado, em termos nominais. No Rio Grande do Sul, a queda foi de 4,4%, com a média de janeiro a R$ 1.484,43/tonelada, a menor desde outubro/21 (Assessoria de Comunicação, 3/2/23)