Trigo: Análise Conjuntural Agromensal Novembro/22 Cepea/Esalq/USP
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Em novembro, estimativas apontaram produções recordes de trigo no Brasil e no mundo. Por outro lado, em termos globais, o volume ainda ficará abaixo da demanda, pressionando os estoques pelo terceiro ano consecutivo. Segundo dados do USDA, a produção mundial está estimada em 782,67 milhões de toneladas, um novo recorde, 0,1% superior aos dados indicados em outubro/22 e 0,4% acima dos da temporada passada.
Os ajustes positivos no mês foram relacionados principalmente ao aumento da produção na Austrália, no Cazaquistão e no Reino Unido. A estimativa de consumo mundial subiu leve 0,1% no comparativo mensal, indo para 791,16 milhões de toneladas, 0,3% menor que na safra 2021/22.
Os estoques de passagem foram previstos em 267,8 milhões de toneladas, alta de 0,1% no mês, mas os menores desde 2016/17. Para o Brasil, a Conab elevou a projeção desta safra, que deverá atingir 9,5 milhões de toneladas, um recorde, com forte alta de 23,7% em comparação à temporada 2021/22.
Isso foi possível com maiores projeções de produtividade e de área destinada ao cereal. A produtividade deve ser de 3,11 toneladas/hectare, 11,1% maior que na temporada anterior. A área destinada ao cereal foi estimada 3,05 milhões de hectares, elevação de 11,4% sobre a safra passada.
A estimativa de importação da Conab foi mantida em 6,1 milhões de toneladas no acumulado de agosto/22 a julho/23, 0,3% superior ao da temporada passada. Com a elevação da produção nacional e a estabilidade nas importações, a disponibilidade interna avançou para 16,32 milhões de toneladas.
O consumo doméstico está previsto em 12,28 milhões de toneladas, e as exportações devem ser de 2,7 milhões de toneladas (entre agosto/22 e julho/23). Assim, o estoque final foi reajustado positivamente para 1,33 milhão de toneladas em julho/23.
MERCADO INTERNO
A colheita de trigo já ultrapassou 85% da área destinada ao cereal, com destaque para o Paraná, um dos principais estados produtores, e onde os trabalhos de campo estão na reta final. O avanço da colheita de trigo no Rio Grande do Sul resultou em queda de preços. No geral, a liquidez está maior no estado, que vem ofertando trigo de melhor qualidade nesta temporada. Colaboradores do Cepea também informaram que está chegando cereal do Paraguai no Paraná.
O preço médio do trigo no mercado disponível no Rio Grande do Sul foi de R$ 1.611,10/t, queda de 5,9% frente ao de outubro/22; porém, 7,6% maior em relação a novembro/21. Em Santa Catarina, a média foi de R$ 1.767,09/t, redução de 1,9% frente à de outubro/22, mas 14,8% superior na comparação com novembro/21.
Já no Paraná, a média em novembro foi de R$ 1.832,03/tonelada, alta de 2,8% no mês e elevação de 13,8% em um ano. Em São Paulo, a média mensal foi de R$ 1.880,05/t, com avanços de 1,6% em relação a outubro e de 10,4% em um ano. Em relação aos farelos, continuaram se desvalorizando de outubro para novembro, 3,7% no caso do a granel e 2,7% no do ensacado, influenciados pela baixa demanda.
BALANÇA COMERCIAL
De acordo com dados preliminares da Secex, nos 20 dias úteis de novembro, as importações somaram 316,2 mil toneladas, contra 381,0 mil toneladas em novembro/21. Em relação ao preço de importação, a média de novembro/22 foi de US$ 382,1/t FOB origem, 35,2% acima da registrada no mesmo mês de 2021 (de US$ 282,5/t).
INTERNACIONAL
O acordo de exportação de grãos pelo Mar Negro foi renovado entre Rússia e Ucrânia para os próximos 120 dias. Assim, apesar da guerra na região, a Ucrânia continuará a escoar internacionalmente o trigo e outros produtos agrícolas. Esse cenário pressionou os valores externos do cereal.
Ressalta-se, contudo, que, na Argentina, maior fornecedora de trigo ao Brasil, a Bolsa de Rosário reduziu novamente a estimativa de produção da temporada 2022/23 daquele país, para 11,8 milhões de toneladas. A produtividade deve ser a menor em 15 anos. Esse cenário preocupa moinhos brasileiros.
No mercado externo, as baixas do primeiro vencimento nas Bolsas de Chicago e de Kansas foram de 6,6% e 2,5%, respectivamente, em comparação a outubro/22, com médias de US$ 8,1210/bushel (US$ 298,39/t) para o Soft Red Winter na CBOT e de US$ 9,3831/bushel (US$ 344,77/t) para o Hard Winter em Kansas (Assessoria de Comunicação, 7/12/22)