Trigo: Análise Conjuntural Cepea/Esalq/USP Agromensal Agosto/21
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A falta de chuvas e as altas temperaturas preocuparam agentes do setor de trigo em agosto. Com exceção de parte do Rio Grande do Sul, o clima no último mês esteve bastante seco, enquanto muitas lavouras estavam nas fases de desenvolvimento e de floração. Esse cenário atrelado à elevação da paridade de importação e à demanda elevada, principalmente por parte do setor de ração, mantiveram em alta os preços domésticos do trigo. No entanto, no fim do mês, as cotações passaram a recuar, apesar da baixa disponibilidade de trigo em grão e da aquecida demanda por farelo.
A pressão veio da proximidade do início da colheita da próxima safra no País – as atividades devem começar em setembro. Mesmo assim, as variações mensais permaneceram positivas. Agora, agentes de moinhos aguardam a entrada do trigo da nova safra no spot nacional para voltar a realizar negócios envolvendo maiores volumes. Além disso, mesmo com as geadas e o déficit hídrico nas lavouras, a produção desta safra pode ser recorde, o que gera expectativas de menores preços. Em agosto, o preço médio do trigo no mercado disponível do Paraná foi de R$ 1.633,08/tonelada, expressiva alta de 6,5% frente ao de julho e de 34,8% na comparação com agosto/20. Em Santa Catarina, a média de agosto foi de R$ 1.610,72/t, avanços de 4,8% no comparativo mensal e de 26,9% no anual.
Em São Paulo, a média foi de R$ 1.666,93/t, elevações de 4% frente à de julho e de 37,1% na comparação com a de agosto/20. No Rio Grande do Sul, a média de agosto fechou a R$ 1.530,69/t, aumentos de 3,3% frente à de julho e de 23,9% em relação à de agosto/20. No caso dos derivados, a maioria das farinhas apresentou alta nos preços em agosto, com valorizações de 1,5% para panificação, 0,9% para bolacha salgada, 0,48% para bolacha doce, 0,4% para massa integral e 0,13% para pré-mistura. Já as farinhas destinadas para massas em geral e massas frescas se desvalorizaram, 2,42% e 2,08%, respectivamente. Quanto ao farelo, as cotações avançaram de forma expressiva em agosto: 5,5 % para o produto a granel e 5,1% para o ensacado.
IMPORTAÇÕES
De acordo com dados da Secex, em agosto, foram importadas 594,13 mil toneladas de trigo, contra 595,33 mil toneladas em agosto/20. Em relação ao preço de importação, a média de agosto foi de US$ 276,3/t FOB origem, 23,1% acima da registrada no mesmo mês de 2020 (de US$ 224,5/t).
ESTIMATIVAS
O relatório de agosto da Conab mostra que a área brasileira com trigo em 2021 deve atingir 2,69 milhões de hectares, 15,1% acima da safra anterior. A produtividade da safra foi reduzida em relação aos dados indicados em julho, mas ainda deve ser recorde, estimada em 3,18 t/ha, e 19,7% acima da registrada em 2020. Assim, a produção pode somar 8,59 milhões de toneladas, significativo aumento de 37,8% em comparação à safra anterior e um recorde.
A Conab prevê a importação de trigo entre agosto/21 e julho/22 em 6 milhões de toneladas, 0,12% abaixo da safra anterior (agosto/20 – julho/21). Com isso, a disponibilidade interna (estoque inicial + produção + importação) deve ser de 14,73 milhões de toneladas, 14,5% acima da safra anterior e a maior desde 2016. Do lado da demanda, estima-se consumo interno de 12,34 milhões de toneladas, 3,7% a mais que na última temporada.
As exportações permanecem estimadas em 600 mil toneladas. Desta forma, o estoque final, em julho/22, deve ser de 1,79 milhão de toneladas, volume expressivamente superior às 146,9 mil toneladas de julho/21. O USDA, em relatório divulgado em agosto, estima que a produção brasileira seja de 7,7 milhões de toneladas, 23,2% acima da safra 2020/21. Em termos mundiais, o USDA reduziu a estimativa de produção global da safra 2021/22, agora apontada em 776,9 milhões de toneladas, tendo em vista as menores ofertas de Rússia, Canadá, Turquia, Cazaquistão e Estados Unidos. Ainda assim, a produção segue acima da temporada 2020/21, com leve alta de 0,1%.
Quanto ao consumo, o USDA indica aumento de 0,3% de 20/21 para 21/22, a 786,67 milhões de toneladas, mas queda de 0,5% em comparação ao relatório de julho, devido ao menor consumo causado pelos altos preços. Os estoques mundiais recuaram 3,4% frente aos da safra 2020/21, indo para 279,06 milhões de toneladas. A relação estoque/consumo permanece em queda, saindo de 36,9% para 35,5%. Em relação às exportações da safra 2021/22, o USDA prevê 199,81 milhões de toneladas, elevação de 0,8% em comparação à safra anterior. Os destaques nas exportações foram a Ucrânia (23,5 milhões de toneladas) e a Austrália (23,5 milhões de toneladas), com altas expressivas de 40,3% e de 18,8%, respectivamente, entre as temporadas 20/21 e 21/22. Os maiores exportadores continuam sendo a Rússia e a União Europeia, com 35 milhões de toneladas cada.
PREÇOS E SAFRAS EXTERNOS
Nos Estados Unidos, considerando-se as médias de julho e de agosto, o primeiro vencimento do contrato Setembro/21 do Soft Red Winter da Bolsa de Chicago (CME Group) se valorizou relevantes 9,11%, a US$ 7,2574/bushel (US$ 266,66/t). Na Bolsa de Kansas, o contrato de mesmo vencimento do trigo Hard Winter avançou 12,12%, a US$ 7,1144/bushel (US$ 261,41/t). Nos EUA, o USDA indicou que a colheita do trigo de inverno foi finalizada. Para o trigo de primavera, a colheita havia atingido 88% da área em 29 de agosto, acima da temporada passada (66%) e da média de 71% dos últimos cinco anos.
Na Argentina, informações divulgadas pela Bolsa de Cereales apontam que as condições das lavouras foram prejudicadas pela falta de chuvas – na última semana de agosto, 58,9% da área apresentava condições hídricas adequadas. Até o fim do mês, 39% das lavouras argentinas estavam em condições normais, 31%, em excelentes, e 31%, em ruins (Assessoria de Comunicação, 3/9/21)