14/06/2018

Trigo avança nos campos paranaenses

Trigo avança nos campos paranaenses

As lavouras de trigo ganharam mais espaço nas paisagens do Paraná, maior Estado produtor do cereal no país, neste ano. Já é possível observar grandes áreas com as fileiras de trigo começando a crescer em contraste com as plantações de milho que ainda dominam o cenário.

Problemas climáticos que impediram a semeadura do milho safrinha do ciclo 2017/18 dentro da janela ideal de plantio levaram muitos agricultores a preferirem o trigo. Além disso, os preços em patamares atraentes também foram fundamentais para o produtor se arriscar com o cereal.

Em junho do ano passado, o preço do cereal no país estava em US$ 200 por tonelada, considerando o preço FOB na Argentina como balizador. Na semana passada, alcançava US$ 270.

"É um mercado que na teoria é muito bonito, que faz sentido, mas que, na prática, é diferente", afirmou André Debastiani, sócio da consultoria Agroconsult, a uma plateia de produtores de Cascavel (PR) e região. Dentre os presentes estavam muito daqueles que decidiram apostar no trigo neste ciclo.

"Eu tenho 27 anos e nunca vi meu pai plantar trigo. Ajudo desde os 15 anos na lavoura", afirmou Leonardo Grolli, produtor de Cascavel. "Eu gostava da dobradinha: soja e milho. Nunca perdi", completou o pai de Leonardo, Wilson Grolli, que reveza, semeando as culturas de soja, milho e trigo desde 1976.

De acordo com a Agroconsult, a área de trigo semeada neste ano no Paraná deve crescer 5,2%, para 1,012 milhão de hectares. Os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgados ontem, indicam uma área de 1,046 milhão de hectares no Estado, 8,8% acima do ciclo passado.

O patamar de preços também será um fator que motivará o aumento de área semeada com trigo na Argentina, que produz um cereal de qualidade superior ao brasileiro. "Em pesos, o preço do trigo mais que dobrou. Trabalhamos com um cenário de aumento de 5% de área na Argentina, para 6 milhões de hectares", disse Debastiani, em palestra durante a última etapa do 15º Rally da Safra, expedição que percorre lavouras, organizada pela Agroconsult.

Segundo o consultor, considerando uma safra normal, a Argentina produzirá algo em torno de 18,3 milhões de toneladas. Com clima favorável, esse número pode chegar a 20 milhões. O consumo doméstico na Argentina é de 6 milhões de toneladas, o que significa cerca de 14 milhões de toneladas exportáveis. "E é esse trigo que vai chegar ao nosso mercado", disse Debastiani.

A Conab estima que o Brasil deve produzir 4,857 milhões de toneladas de trigo neste ano, 13,9% a mais que em 2017. O Paraná será responsável por 57,8% da produção, com 2,795 milhões de toneladas. A despeito do aumento da produção, a Conab projeta alta de 6,6% nas importações, para 6,5 milhões de toneladas.

Como muita água ainda vai rolar durante a safra de trigo, eventuais problemas de qualidade ou de produtividade não estão descartados. Em 2017, o excesso de chuvas provocou uma queda de quase 40% na produção do cereal no Paraná. "A gente já tem uma área de replantio de trigo porque teve excesso de umidade", disse Leonardo Grolli.

"Se o câmbio ajudar, exportaremos trigo de menor qualidade para África para fazer ração e importaremos para consumo da Argentina", afirmou Debastiani.

Com o peso desvalorizado pela crise na Argentina, o Brasil se torna um mercado ainda mais atrativo para os exportadores do país vizinho. "O receio é que haja uma inundação do trigo argentino e isso derrube os preços [domésticos]", ponderou Debastiani (Assessoria de Comunicação, 13/6/18)