Trigo:Análise Conjuntural Agromensal Outubro Cepea/Esalq/USP
As cotações do trigo em grão fecharam o mês de outubro em alta no mercado doméstico. A retração de vendedores, a postura mais ativa de compradores e o dólar elevado, que encarece as importações, deram suporte aos preços nacionais. Em relação à indústria moageira, agentes seguiram adquirindo lotes pontuais de trigo e muitos mostraram dificuldades em repassar os atuais custos elevados do cereal aos derivados (farinhas e farelos). Em outubro, o valor médio do trigo no mercado disponível (negociações entre empresas) no Paraná teve aumento expressivo de 11% frente ao de setembro e ficou 54,5% acima do verificado em outubro/19, em termos nominais. Em São Paulo, os avanços foram de 9,6% no mês e de 49,4% em um ano.
Para o Rio Grande do Sul, a elevação na média foi de 1,9% em relação à de setembro e de 63,6% frente à de outubro/19. Em Santa Catarina, os aumentos foram de 1,4% no mês e de 46,8% em um ano. No acumulado do mês (de 30 de setembro a 31 de outubro), os levantamentos do Cepea mostram que os valores do grão no mercado de balcão (valor pago ao produtor) avançaram expressivos 23,1% no estado sul-rio-grandense, 22,2% no catarinense e 17,9% no estado paranaense. No mesmo período, no mercado de lotes, os aumentos nos preços foram de 23,7% no Rio Grande do Sul, 20,2% no Paraná, 19,6% em São Paulo e 12,7% em Santa Catarina.
No geral, dados da Seab/Deral divulgados em 26 de outubro indicam que a comercialização antecipada do cereal havia atingido 47,3% do volume previsto, contra 29,2% há um mês. Para os colaboradores do Cepea, a fixação de trigo no mercado interno permanece baixa e a preços elevados em função da capitalização dos triticultores. Apesar de o cenário nacional não agradar os compradores, a aquisição do trigo brasileiro ainda está mais viável que as importações. Em outubro, o dólar se valorizou 2,3% frente ao Real, encerrando o mês a R$ 5,74. Ainda conforme dados do Departamento – mas estes divulgados em 29 de outubro –, as perdas no Paraná, ocasionadas por adversidades climáticas nos últimos meses, foram responsáveis pela redução de 15% no potencial produtivo, passando de 3,68 milhões de toneladas para uma projeção de 3,13 milhões.
Apesar disso, o relatório divulgado pela Conab em outubro trouxe estimativas otimistas para o trigo. No Paraná, a produtividade média prevista ainda é considerada satisfatória. Em comparação com levantamento anterior, a área e a produção de trigo devem crescer ambos 0,3%, somando respectivos 2,334 milhões de hectares e 6,833 milhões de toneladas. Para o Rio Grande do Sul, de acordo com a projeção da Emater/RS-Ascar, a área plantada nesta safra foi de 915,7 mil ha, 20,34% acima do ciclo anterior (760,9 mil hectares). Todavia, a primeira estimativa de produção é de que as lavouras gaúchas somem 2,18 milhões de toneladas, recuo de 4,23% em relação ao ano passado (2,2 milhões de toneladas), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Enquanto isso, na Argentina, segundo a Bolsa de Rosário, a projeção de outubro para a safra 2020/21 aponta produção de 17 milhões de toneladas, 5,6% a menos que o apontado no mês anterior (18 milhões de toneladas). A falta de chuvas e a incidência de geadas em algumas regiões influenciaram o reajuste negativo na estimativa de produção. Dos 6,5 milhões de hectares semeados, 608 mil hectares não serão colhidos, por conta dessas adversidades climáticas.
IMPORTAÇÕES
De acordo com os dados preliminares da Secex, nos primeiros 20 dias úteis de outubro, foram importadas 508,6 mil toneladas de trigo, contra 607,1 mil toneladas em outubro/19. Em relação ao preço de importação, a média de outubro/20 esteve em US$ 228,10/t FOB origem, 0,12% abaixo da registrada no mesmo mês de 2019 (de US228,40/t).
DERIVADOS
As cotações das farinhas e farelos seguiram em alta, influenciadas pelo significativo aumento do preço do trigo em grão – ainda assim, agentes da indústria moageira nacional alegam estar com as margens apertadas. Colaboradores do Cepea indicam que a pressão por parte do mercado consumidor esteve grande em outubro. Em relação aos farelos de trigo, os valores permanecem em alta, e moinhos sinalizaram dificuldades em atender à crescente demanda. As farinhas destinadas à bolacha doce, integral, panificação, massas frescas, massas em geral, pré-mistura e bolacha salgada se valorizaram 4,84%, 3,74%, 3,31%, 3,06%, 2,93%, 2,74% e 2,70%, respectivamente.
Para os farelos, as elevações nos preços foram de expressivos 13,4% para o a granel e de 10,2% para o ensacado. PREÇOS INTERNACIONAIS – Considerando-se as médias de setembro e outubro, o primeiro vencimento do trigo Soft Red Winter, negociado na CME Group (Bolsa de Chicago), se valorizou 10,5%, a US$ 6,0620/bushel (US$ 222,74/t). Para a Bolsa de Kansas, o primeiro vencimento do trigo Hard Red Winter avançou 13%, a US$ 5,4357/bushel (US$ 199,73/t). Conforme o relatório do USDA, a projeção para a produção mundial em 2020/21 avançou 0,3% em relação ao relatório do mês anterior, a 773,082 milhões de toneladas, e ficou 1,1% maior que a da safra 2019/20 (764,025 milhões de toneladas).
O aumento se deve às maiores safras da Rússia e da União Europeia, que compensaram as reduções no Canadá, Ucrânia e Argentina. O consumo mundial praticamente não mudou. Destacase que a procura por farinhas destinadas às massas cresceu, por conta das mudanças nos padrões de consumo provocadas pela covid-19. Em relação aos estoques mundiais, devem aumentar 0,7% frente ao relatório de setembro, somando 321,451 milhões de toneladas e 7,4% maior que os disponíveis em 2019/20 (299,395 milhões de toneladas). A relação estoque/consumo deve ser de 42,8% (Assessoria de Comunicação, 5/11/20)