14/10/2019

Trump anuncia primeira fase de acordo comercial com a China

Trump anuncia primeira fase de acordo comercial com a China

Legenda: Vice premiê da China, Liu He, conversa com o presidente dos EUA, Donald Trump, durante reunião no Salão Oval da Casa Branca após dois dias de negociações em Washington

Os Estados Unidos e a China acertaram nesta sexta-feira a primeira fase de um acordo para encerrar a guerra comercial iniciada por Washington, o que levou o presidente Donald Trump a suspender uma elevação de tarifas de importação, mas autoridades disseram que o entendimento ainda precisa ser oficializado e que uma finalização do pacto ainda demandará mais trabalho.

O acordo parcial, que tratou de compras agrícolas, moeda e alguns aspectos de proteção à propriedade intelectual, foi o maior passo para resolver uma guerra tarifária de 15 meses entre as duas maiores economias do mundo, que atingiu os mercados financeiros, afetou a produção e desacelerou o crescimento global.

O anúncio, contudo, não incluiu vários detalhes e Trump disse que levará cinco semanas para que o acordo seja redigido.

“Não vamos assinar um acordo a não ser que ele esteja no papel, e possamos dizer isso ao presidente”, afirmou o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, enquanto os dois lados se reuniam com Trump na Casa Branca.

Com o vice premiê da China, Liu He, sentado à sua frente no Salão Oval, Trump disse a jornalistas que os dois lados estavam muito perto de colocar um fim à guerra comercial.

“Houve muita fricção entre os Estados Unidos e a China, e agora é amor. Isso é uma coisa boa”, afirmou.

Trump falava após dois dias de negociações em Washington entre Mnuchin, o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, e uma delegação chinesa liderada por Liu.

Mnuchin disse a repórteres que Trump concordou em não levar adiante o aumento nas tarifas de importação de 25% para 30% sobre cerca de 250 bilhões de dólares em produtos chineses que deveriam entrar em vigor na terça-feira.

Entretanto, Lighthizer disse que Trump não tomou uma decisão sobre tarifas que poderiam entrar em vigor em dezembro.

Quando questionado sobre essas tarifas, Trump disse: “Acho que teremos um acordo que é um grande acordo que irá além de tarifas.”

Trump já afirmou anteriormente que não ficaria satisfeito com um acordo parcial para resolver seu esforço de dois anos para mudar as práticas comerciais, de propriedade intelectual e de política industrial da China, que ele argumenta que custam milhões de empregos nos EUA.

Os principais índices de ações dos EUA, que estavam negociando em fortes altas com a esperança de algum tipo de acordo, reduziram alguns dos ganhos após o anúncio. O índice S&P 500 subiu cerca de 1,4%, mas fechou em alta de 1,1 por cento.

Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, devem participar, em 16 de novembro, de cúpula dos países da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec), em Santiago do Chile.

Os dois lados já impuseram tarifas sobre centenas de bilhões de dólares em bens durante a disputa, mas houve sinais positivos nos últimos dias.

O regulador de valores mobiliários da China também divulgou nesta sexta-feira um cronograma firme para eliminar os limites de propriedade estrangeira em empresas, valores mobiliários e fundos de investimento pela primeira vez. O aumento do acesso estrangeiro ao setor está entre as demandas dos EUA nas negociações comerciais.

Pequim disse anteriormente que abrirá ainda mais seu setor financeiro em seus próprios termos e em seu próprio ritmo (Reuters, 11/10/19)


China não quer desviar compras do Brasil para atender aos EUA

Por Nelson de Sá

Para WSJ e FT, Pequim cedeu pouco e conseguiu vitórias na trégua comercial com Washington.

Na manchete do Wall Street Journal de sábado para domingo, “China sai com vitórias na trégua comercial”. A maior é que joga para a frente concessões que “não quer fazer”, por exemplo, em tecnologia.

Quanto à promessa de comprar mais dos fazendeiros americanos, festejada por Donald Trump em comício ao vivo na Fox News, vai depender das “necessidades reais” do país, segundo “negociadores chineses”, que enfatizaram:

“A China não deve ser forçada a desviar compras de outros países como o Brasil para atender à solicitação dos EUA.”

Também o Financial Times noticiou que a “China faz poucas concessões na trégua com os EUA”. Logo abaixo, “Pequim acredita que o tempo está do seu lado, com Trump buscando um impulso econômico para a eleição” do ano que vem.

Já o Renmin Ribao/People’s Daily e o Huanqiu Shibao/Global Times, jornais vinculados ao PC chinês, publicaram comentários contidos, sublinhando apenas que foi alcançado “progresso substancial”.

Outros links chineses citados:
http://world.people.com.cn/n1/2019/1013/c1002-31397361.html
http://en.people.cn/n3/2019/1012/c90000-9622299.html
http://www.globaltimes.cn/content/1166754.shtml

 NOVAS MARCAS

WSJ destacou também a extensa reportagem “América está perdendo o consumidor chinês”. Marcas locais de artigos esportivos como Li-Ning (acima, imagem da loja) tomam o lugar de Nike e Adidas. O mesmo vale para Carrefour, Uber e outras.

O jornal cita estudos de bancos e consultorias ocidentais para alertar que a “China hoje contribui com um terço do crescimento global” e deve “passar EUA como maior mercado consumidor em 2021”.

HUAWEI E AS RIVAIS

FT publicou que os EUA propuseram “financiar rivais ocidentais da Huawei” em tecnologia 5G, as europeias Nokia e Ericsson. Antes, foram abordadas as americanas Oracle e Cisco, para “estimular um rival caseiro”, mas ambas “rechaçaram, avisando que seria muito caro e demorado”.

Três dias depois, o WSJ noticiou que em novo estudo, “não público”, a União Europeia passou agora a “identificar ameaças de segurança” no 5G da Huawei.

DEBANDADA

Washington Post informa que caiu mais um diplomata ligado ao Brasil. Após Kimberly Breier em agosto e John Bolton em setembro, agora foi Michael McKinley, assessor direto do secretário de Estado e, até um ano atrás, o embaixador americano.

Foi ele que, a quatro meses da eleição, se reuniu com Jair Bolsonaro.

MAIS CATÁSTROFE

O francês Le Monde ainda dá atenção ao salto de 93% no desmatamento da Amazônia, mas outros já se voltaram de vez para o petróleo nas praias, que o alemão Süddeutsche Zeitung vê como a nova "catástrofe ambiental no Brasi".

Bloomberg diz que "ninguém sabe de onde veio", a CNN fala em "mistério", a Deutsche Welle aponta "enigma" e a Al Jazeera foi a Coruripe, em Alagoas (vídeo acima), confirmar que "não está clara a origem do imenso derramamento de petróleo" (Folha de S.Paulo, 14/10/19)