16/04/2018

UE ameaça suspender todas as compras de frango da BRF

UE ameaça suspender todas as compras de frango da BRF

Comitiva brasileira sai pessimista de encontro em Bruxelas sobre o caso.

A UE (União Europeia) ameaça ampliar o boicote à BRF, maior exportadora de carne de frango do país, para todas as unidades produtoras da empresa, que hoje tem três fábricas proibidas de vender o produto ao bloco.

"O ministro Blairo Maggi (Agricultura) apresentou todos os argumentos, mas eles ameaçam desabilitar todas as plantas da BRF", afirmou o representante do Senado na comitiva que foi a Bruxelas, sede política da UE, discutir o caso nesta semana, Cidinho Santos (PR-MT).

A proibição é decorrência da Trapaça, fase da operação da Polícia Federal Carne Fraca que identificou em março deste ano fraudes em laudos sobre contaminação por salmonela em unidades exportadoras da BRF.

Três delas foram vetadas de vender preventivamente pelo Ministério da Agricultura: Mineiros (GO), Rio Verde (GO) e Curitiba (PR).

Blairo, Santos e técnicos se reuniram de terça (10) a quinta (12) com representantes da divisão sanitária da Comissão Europeia, órgão executivo da UE. "Saímos pessimistas do encontro", relatou o senador, suplente do ministro.

Blairo não respondeu a mensagem da reportagem nesta sexta (13). Em rede social, havia publicado postagem dizendo ter registrado "poucos avanços" na negociação, e relatando ter esperança de "minimizar o impacto" da decisão que a Comissão Europeia tomará no próximo dia 18 sobre a importação.

O Brasil é o maior produtor mundial de frango, e a BRF, sua principal exportadora. Os países da UE são destino de cerca de 15% das vendas, segundo dados do setor. A empresa, que nega irregularidades, não comentou o caso.

A Operação Carne Fraca também investiga suspeitas de problemas em outras empresas, como a JBS, mas a fase atual é centrada na BRF.

Segundo Santos, membros da UE estão aproveitando a crise deflagrada pela operação. "Há muita pressão, querem fechar acesso a tudo", disse, ressoando críticas ao protecionismo europeu.

A Folha buscou, sem sucesso, contato com a Comissão Europeia. A comitiva brasileira teme que a exportação de suínos da BRF também acabe afetada.

Se for tomada uma decisão contra o Brasil, as opções são ir à OMC (Organização Mundial do Comércio) visando criar uma arbitragem ou retaliar contra produtos europeus.

TEMPESTADE

A crise na área exportadora integra a tempestade que atinge a maior processadora de alimentos do Brasil.

A BRF enfrenta uma disputa encarniçada por seu controle, após registrar um prejuízo recorde de R$ 1,1 bilhão no ano passado --parte pelos efeitos da Carne Fraca, parte por problemas de gestão que fizeram alguns de seus principais acionistas requisitarem a destituição do conselho liderado pelo empresário Abilio Diniz.

Duas chapas, uma delas montada pelo empresário, deveriam se enfrentar no próximo dia 26 em assembleia.

Com apoio dos fundos de pensão Petros e Previ, a gestora britânica Aberdeen tomou a frente e requisitou o chamado voto múltiplo, obrigando que cada um dos dez novos conselheiros seja escolhido individualmente.

Com isso, a disputa será direta entre as facções beligerantes, reforçando a impressão de mercado de que a crise interna na empresa está bem longe de se resolver.

Cada conselheiro tem de ser eleito, na prática, por quem possuir 5% de controle da empresa.

Assim, os fundos de pensão, com 22% das ações, asseguram quatro representantes de saída. Aberdeen (5%), mais um. Abilio, com menos de 4%, poderá fazer dois ou três nomes a depender do alinhamento que conseguir.

A ação da BRF fechou a sexta em queda de 4,58%, a R$ 21,67. Há menos de três anos, ela valia R$ 70. "É claro que há um problema de gestão que os europeus percebem", afirmou o senador (Folha de S.Pauo, 14/4/18)


Brasil ameaça retaliar se UE embargar a BRF

Com o fim das "intensas" negociações com a União Europeia ontem em Bruxelas, o Brasil passou a cogitar retaliar importações de produtos do bloco caso este decida, na semana que vem, impor um embargo definitivo a plantas da BRF e de outras empresas brasileiras de carne de frango, bovina, pescado e mel.

Nesse contra-ataque avaliado pelo Brasil, o presidente Michel Temer poderá entrar em campo e não está descartada a abertura de um painel na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a UE, segundo uma fonte a par do assunto.

A posição da comitiva brasileira liderada pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, foi comunicada a autoridades da Comissão Europeia em reuniões nesta semana. Nos próximos dias 18 e 19, países-membros do bloco vão se reunir para decidir, em votação, se a barreira para a BRF e outras empresas será imposta.

O principal foco da visita da delegação brasileira a Bruxelas era justamente evitar essa votação, que até agora está mantida. O Ministério da Agricultura defende que o embargo da UE continue restrito às três plantas da BRF investigadas no âmbito da Operação Trapaça. Por outro lado, técnicos da UE vêm demonstrando desconfiança de que outras unidades da BRF também tenham cometido irregularidades.

Deflagrada pela Polícia Federal no dia 5 de março deste ano, a Trapaça revelou um esquema de fraudes envolvendo a BRF e laboratórios na análise da bactéria salmonela em lotes de carne de frango destinados à exportação.

Em sua página oficial no Facebook, Blairo Maggi comentou ontem que as negociações com os europeus tiveram "poucos avanços", mas disse ainda ter esperança de "minimizar impactos negativos" sobre as vendas externas de carnes de aves do Brasil. O ministro confirmou que poderão ser tomadas as "providências que forem consideradas necessárias" para restabelecer o fluxo comercial com o bloco, caso a UE realmente venha a aplicar sanções comerciais mais duras ao agronegócio brasileiro.

A comitiva brasileira retorna hoje, e na próxima terça-feira Blairo Maggi concederá uma entrevista coletiva para detalhar as conversas com os europeus.

Valor apurou que, embora a iniciativa privada e o governo brasileiro estejam se empenhando para evitar uma "guerra comercial" com a UE, o Palácio do Planalto pode ser acionado para aplicar sanções a produtos europeus, não só agropecuários. Além de queijos, vinhos, azeites e bacalhau, automóveis e autopeças também poderão entrar na lista, se de fato ela existir.

"Não adianta colocarmos a culpa na Polícia Federal ou no protecionismo europeu, que sempre existiu. Temos que arrumar a casa – pública e privada – e reconstruir nossa credibilidade", afirma Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) (Assessoria de Comunicação, 13/4/18)


Eleição para conselho será por voto múltiplo; Furlan indica Trajano e Falconi

A BRF informa aos acionistas que fez alterações no boletim de voto a distância para a assembleia marcada para o dia 26/04 que terá entre outros temas a eleição do conselho de administração, adotando voto múltiplo. Até então, havia duas chapas para o pleito, uma lista composta por nomes indicados pelos fundos de pensão Previ (Bando do Brasil) e Petros (Petrobras) e outra apresentada pelo atual colegiado, que é presidido pelo empresário Abílio Diniz.

Porém, quatro executivos manifestaram recusa em participar dessa chapa alternativa e, por outro lado, o acionista Aberdeen, um fundo de investimento internacional, fez pedido para voto múltiplo após ter atingido participação acionária relevante, de mais de 5% das ações com direito a voto.

No boletim de voto a distância as alterações efetuadas referem-se, exclusivamente, aos itens sobre a eleição dos membros do conselho de administração e do presidente e vice-presidente do órgão. Outra mudança é quanto aos nomes dos candidatos incluídos no boletim, que são os que já constavam da versão anterior exceto José Aurélio Drummond Jr., que apresentou formalmente à ontem à noite solicitação para não concorrer aos cargos no conselho de administração.

Nesse ínterim, a companhia recebeu indicação de novos candidatos ao conselho
de administração, divulgados por meio de aviso aos acionistas, que são Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, e o consultor de empresas Vicente Falconi. Eles foram indicados pelo acionista Luiz Fernando Furlan, também ontem.

Na correspondência encaminhada à empresa, Furlan afirma que: “Entendo que estas indicações vão ao encontro com o melhor interesse dos acionistas e da Companhia, dado o currículo profissional dos candidatos e o quanto poderão contribuir para a BRF. Acredito ser relevante informar que ambos os candidatos conhecem o setor e a Companhia uma vez que já participaram do Conselho de Administração da Sadia e/ou BRF” (Broadcast, 14/4/18)


Sindicatos de trabalhadores e políticos pedem saída de Abilio

A crise no comando da BRF ultrapassou a esfera da disputa entre os principais acionistas da empresa. Tornou-se tema de sindicatos e políticos. A iniciativa das fundações Previ e Petros, detentoras de 22% do capital da companhia, de pedir a reforma do conselho de administração e a saída do empresário Abilio Diniz recebeu manifestações públicas de apoio de cinco sindicatos e do senador Paulo Bauer, líder do PSDB na casa e candidato ao governo de Santa Catarina.

Abilio foi frontalmente criticado. Ambas as demonstrações – dos trabalhadores e do senador – personificaram no empresário os problemas da BRF. A companhia amargou prejuízos de R$ 370 milhões e R$ 1,1 bilhão, em 2016 e no ano passado, respectivamente.

No caso dos sindicatos, além da defesa do movimento dos fundos de pensão em nota pública, houve duros comentários contra o pacote de retenção de até R$ 41 milhões aprovado recentemente pelo conselho da empresa. "Esta decisão é um escárnio", diz o anúncio de ontem assinado pela Força Sindical, Federação dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de São Paulo, Federação das Indústrias de Carnes, Alimentação e Afins de Santa Catarina e Sindicato da Alimentação de São Paulo.

O senador Bauer disse em discurso no plenário na quarta-feira que vai exigir "que os fundos de pensão tomem a posição correta, substituindo a totalidade dos conselheiros e, como consequência, os dirigentes da empresa." Ele alegou que a questão é "improrrogável para o bem da economia de Santa Catarina e do Brasil". Com sede em Itajaí, a BRF é a maior empresa instalada no Estado de Bauer. Ele relatou que em 2017 esteve com Michel Temer e solicitou que o presidente chamasse a atenção dos fundos de pensão para a situação. Conforme o senador, outros parlamentares e três governadores estiveram no encontro, na ocasião.

Consultados, Abilio e BRF não comentaram o assunto.

Filho do fundador do Grupo Pão de Açúcar e hoje grande investidor, Abilio assumiu a presidência do conselho de administração da BRF em abril de 2013, como resultado de movimento liderado pela gestora de recursos Tarpon – cujo sócio Pedro Andrade Faria presidiu a empresa de 2015 a 2017. A Previ foi, então, uma importante apoiadora da indicação de Abilio.

Na época, o empresário, que concluía a venda da companhia da família à rede francesa Casino, aplicou cerca de R$ 1,2 bilhão na compra ações da BRF, que valia então R$ 40 bilhões na bolsa. Ontem, fechou o pregão valendo menos da metade disso: R$ 18,3 bilhões.

Não é a primeira vez, durante a gestão de Abilio e Tarpon, que a remuneração dos executivos é alvo de críticas, por ser considerada elevada. No caso do pacote de retenção, contudo, não se trata de uma reserva apenas para o alto escalão. Conforme esclarecimento feito pela empresa à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o plano tem como beneficiários não só diretores estatutários, mas um número muito maior de colaboradores não estatutários.

O valor devido aos cargos estatutários está dentro do total do pacote de remuneração que será levado à assembleia do dia 26 – mesmo encontro em que os acionistas decidirão a formação do conselho de administração. O total previsto para este ano é de R$ 86,7 milhões. No ano passado, apesar de a assembleia ter aprovado uma reserva de até R$ 99, 7 milhões para a diretoria e conselho, foram efetivamente pagos R$ 56,2 milhões (não houve a distribuição de participações nos lucros).

Ontem, a Aberdeen, gestora com 5% da BRF que apoia Petros e Previ pediu que a eleição do conselho seja feita por voto múltiplo. Assim, está encerrada a briga por "times". Cada acionista distribuirá seus votos entre os candidatos (Assessoria de Comunicação, 13/4/18)