Um ponto de vista – Por Paulo Celso Biasioli
Após sucessivos e crescentes anúncios de retração de consumo de sucos de laranja no mundo todo, antevejo, de maneira global, uma nova situação da cadeia toda. Como tenho dito “a citricultura de hoje não é mais como a de ontem e nem será a mesma no futuro”
Uma retomada de crescimento e volta à curva positiva de demanda mundial pode demorar mais do que se gostaria e, demorando pode pegar muita gente de calças curtas.
A sorte do Brasil é que a queda de consumo ocorreu na mesma época da redução de produção da Flórida e isso provocou um equilíbrio no tabuleiro.
O duro é pensar e decidir no longo prazo se no curto está difícil!
Procurei fazer uma análise realista sobre vários aspectos, claro, na minha ótica.
- Outros países estão longe de terem uma produção competitiva com a nossa, por exemplo, o México tem graves problemas internos, sofre tanto quanto nós com doenças, muitas propriedades pequenas, reforma agrária confusa, instabilidade sazonal e custos. A China e outros países passíveis de produzir frutas aptas, não tem o mesmo perfil varietal como da citricultura brasileira e para mudar custa tempo e muito dinheiro.
- Parece que o americano não quer impulsionar o consumo, gastando com propaganda que seria incoerente por que, para cobrir a demanda, teriam que gastar com importações (seja do Brasil ou do próprio México).
- Por outro lado, acho que o americano poderá no futuro voltar a ter interesse na retomada do consumo, o que pode ocorrer no momento em que a Califórnia começar a produzir mais e destinar parte dos citros para industrializaçãoç já se fala em transferências das fábricas ociosas da Florida, o que é bem provável.
- No médio prazo, a equação Dólar x Euro pode ser um fator decisivo nas gondolas da Europa e alterar demanda.
- Nenhum país do mundo pode ser nosso concorrente num estalo de dedos, seus pomares ainda não são para sucos, com isso o Brasil continuará a desovar 1 milhão de tons equivFCOJ66bx mundo afora precisando, para tanto, esmagar mais de 280 milhões de caixas/safra. 6. Para atender novos mercados consumidores fora dos tradicionais, há a necessidade de crescimento (logística de fornecimento) com grandes e novos investimentos; como dizem que a rentabilidade da indústria tem caído em função do alto valor da matéria-prima, talvez eles demorem decidir por um novo plano logístico e comercial.
Ainda existem fatos positivos, a economia mundial tem crescido, existem expectativas de crescimentos de mercados emergentes (aumento da faixa de maior poder aquisitivo na Índia, Rússia e China) e o próprio crescimento vegetativo dos mercados tradicionais e vizinhos.
Por outro lado, no ambiente dos citricultores alguns fatos exigem reflexão;
- a) A remuneração por caixa, nos níveis atuais pode ser insustentável para as indústrias e se o valor de venda FCA não se sustentar acima de 2.300 usd/t e dificilmente eles poderão pagar valores acima de R$20/cx nas futuras safras.
- b) O crescimento e consolidação do NFC (suco fresco) no mercado mundial poderão levar as indústrias a remunerar frutas baseadas na qualidade (variedade, ratio e brix) para atender as especificações internacionais do produto.
- c) Se dentro de anos ocorrer uma safra grande, como a encerrada, tenho muita preocupação com a remuneração ao citricultor!
- d) Não ocorrendo valorização das matérias-primas por alguns anos mais, pode haver redução no inventário de pomares, pois, sempre há no ar a tendência perigosa de migração para outras culturas.
- e) A maioria dos citricultores tem dificuldade com sucessão; conheço MUITA gente que não sabe o que vai ser com suas propriedades daqui a alguns anos, com seus filhos sendo atraídos por caminhos mais concretos e seguros.
- f) Há anos os citricultores particulares não compram novas propriedades, só investem o mínimo nas suas atuais e não há crescimento de fornecimento de mudas. As indústrias têm seus próprios planos de produção de mudas, reposição e crescimento e, quando precisam, compram mudas extras de particulares, inflacionando o mercado destas.
- g) Hoje os produtores estão descapitalizados, reduzindo tratos, combates e adubações culturais; dizem que, uma muda comprada e plantada hoje irá produzir daqui uns 4 anos e carregará uma despesa de quase R$50/pé!!! Ninguém tem coragem de investir e ficar ao seu Deus dará. h) Antigamente existiam famílias que produziam e levavam suas vidas com 30-50 mil caixas/ano, hoje acredito que poucos conseguirão se sustentar com produção abaixo de 100.000 caixas (!). i) Os custos de produção aumentaram e são ingratos tanto pela presença de greening, cancro cítrico e outras, como pela ausência de ações governamentais no financiamentos de safras e dívidas.
Finalmente, não há conclusão definitiva, não há bola de cristal, tudo pode ocorrer!
Então que ocorra o melhor para todos (Paulo Celso Biasioli é da
CROP Consultoria, pcbiasioli@yahoo.com.br