Usinas e fornecedores de cana têm queda de braço
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Produtores e indústrias de cana voltaram a se desentender sobre o modelo de remuneração da produção agrícola independente das usinas. A Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), que representa os fornecedores independentes no Conselho de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana), de decidiu obstruir a pauta do conselho até que a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica) aceite abrir uma revisão da metodologia de remuneração da cana. As duas entidades partilham a diretoria do conselho.
O modelo atual de remuneração, vigente desde o início do Consecana, prevê que as usinas devam pagar aos fornecedores 60% do valor obtido com a produção da cana fornecida. Mas os produtores, que respondem por 30% da produção de cana do Centro-Sul, afirmam que o modelo está defasado. “A última revisão [da metodologia] foi de 2018. De lá para cá, os custos agrícolas cresceram muito mais do que os custos industriais”, argumenta Gustavo Rattes de Castro, presidente da Orplana.
A elevação dos preços dos insumos agrícolas após a guerra da Ucrânia apertou ainda mais as contas dos produtores, embora o problema tenha arrefecido nos meses mais recentes. “Os insumos subiram bastante, mas também o óleo diesel, os salários, encargos. Em dez anos, tudo isso subiu muito mais do que a inflação”, diz.
Segundo a Orplana, há uma defasagem entre os custos de produção estimados pelo conselho e os custos sentidos pelos produtores. Um levantamento realizado pelo Pecege, de Piracicaba, em 2018, a pedido da organização dos produtores, concluiu que o valor previsto pelo conselho estava 15% abaixo do custo real.
Uma análise interna produzida pela equipe técnica da Orplana avalia que a defasagem está atualmente em 14,83%. Em fevereiro, por exemplo, o valor atribuído pelo Consecana à quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) ficou em R$ 1,1682 o quilo, enquanto a Orplana reivindica um preço de R$ 1,3414 o quilo.
O regulamento do Consecana prevê que, a cada cinco anos, a diretoria revise os aspectos técnicos e econômicos da remuneração da cana. Esta não é a primeira vez que produtores e usinas se desentendem sobre o assunto. E, como a última discussão sobre o tema foi em 2018, a associação dos produtores entende que agora é o momento de voltar a pautar o assunto.
A divisão da remuneração é calculada com base em cada linha de custos no campo e nas indústrias. O percentual da divisão vigente foi determinado ainda no início dos trabalhos no conselho, há mais de 20 anos, quando o governo federal deixou de regular o mercado de cana e de seus produtos.
Castro sustenta que a remuneração dos fornecedores deveria estar mais próxima de 70% do valor obtido a partir da produção de uma tonelada de cana entregue nas usinas. Mas defende que a determinação do percentual de pagamento seja feita a partir de um estudo técnico, a ser contratado pelo Consecana.
Na mesa do conselho, porém, o debate não foi colocado em pauta na última reunião, no último dia 13, o que motivou os diretores da Orplana a se ausentarem do encontro. A Unica, por sua vez, criticou a postura da organização, defendendo o “diálogo, o respeito e a interação”.
“Divergências sobre aspectos técnicos do modelo [de precificação] são naturais e devem ser debatidas de forma fundamentada, respeitando decisões anteriores e envolvendo o amplo diálogo entre os agentes que compõem os órgãos decisórios do modelo”, afirmou a Unica.
Ainda de acordo com a associação das usinas, o Consecana “passou por inúmeros aperfeiçoamentos, que incluíram novos sistemas e metodologias de mensuração da qualidade da matéria-prima, adaptações nos indicadores de preço para retratarem de forma adequada as condições de mercado, mudanças nos parâmetros de precificação da matéria-prima e a aprovação constante de novos equipamentos utilizados nos laboratórios de análise de cana” (Assessoria de Comunicação, 30/3/23)