19/08/2019

Uso da palha da cana para produzir etanol gera risco ao meio ambiente

Legenda: Um dos locais de experimento da pesquisa

 

Segundo pesquisador e professor da Esalq/USP, palha protege o solo e oferece nutrientes essenciais. Retirada causa necessidade de aumentar uso de fertilizantes.

Legenda: Palha da cana-de-açúcar é usada para fazer etanol e energia

Um pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) alerta que o uso da palha da cana-de-açúcar para produzir de etanol a energia elétrica sustentável, prática usada por algumas usinas, pode deixar o solo infértil e gerar danos ao meio ambiente. Segundo a pesquisa, a palha serve como uma camada protetora do solo e, sem os nutrientes oferecidos por ela, será preciso dobrar o uso de fertilizantes até as próximas décadas para repor o que foi retirado do meio ambiente.

O estudo desenvolvido pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP) Maurício Cherubin busca identificar os principais impactos a longo prazo da colheita irregular do material usado na produção da bioenergia – a energia obtida em matéria orgânica animal ou vegetal. Além disso, a pesquisa quer alertar as usinas sobre a quantidade mínima de folha a ser deixada no solo. “A retirada como vem acontecendo em alguns locais já é algo preocupante”, afirma o pesquisador ao G1.

O especialista explica que muitas usinas já se preocupam com o manejo da palha, mas que, se o ritmo de retirada do material do meio ambiente continuar excessivo, será necessário dobrar o uso de fertilizantes até 2050 para suprir a demanda de nutrientes que a lavoura precisa. Caso contrário, a fertilidade do solo tende a diminuir.

Legenda: Palha da cana-de-açúcar é usada para fazer etanol e energia

Um pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) alerta que o uso da palha da cana-de-açúcar para produzir de etanol a energia elétrica sustentável, prática usada por algumas usinas, pode deixar o solo infértil e gerar danos ao meio ambiente. Segundo a pesquisa, a palha serve como uma camada protetora do solo e, sem os nutrientes oferecidos por ela, será preciso dobrar o uso de fertilizantes até as próximas décadas para repor o que foi retirado do meio ambiente.

O estudo desenvolvido pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP) Maurício Cherubin busca identificar os principais impactos a longo prazo da colheita irregular do material usado na produção da bioenergia – a energia obtida em matéria orgânica animal ou vegetal. Além disso, a pesquisa quer alertar as usinas sobre a quantidade mínima de folha a ser deixada no solo. “A retirada como vem acontecendo em alguns locais já é algo preocupante”, afirma o pesquisador ao G1.

O especialista explica que muitas usinas já se preocupam com o manejo da palha, mas que, se o ritmo de retirada do material do meio ambiente continuar excessivo, será necessário dobrar o uso de fertilizantes até 2050 para suprir a demanda de nutrientes que a lavoura precisa. Caso contrário, a fertilidade do solo tende a diminuir.

Legenda: Palha de cana-de-açúcar sobre a lavoura

 

"Durante os estudos, percebemos que há áreas onde a retirada da palha em excesso já é algo preocupante. Os impactos vão começar a ser sentidos de forma gradativa", afirma o pesquisador.

As conclusões do estudo foram obtidas a partir do cruzamento de dados levantados em experimentos de campo feitos em duas cidades e outras informações já disponíveis no campo acadêmico. Com isso, a pesquisa sugere que a média de palha que deveria ser deixada na natureza varia entre sete e dez toneladas por hectare, dependendo da qualidade do solo.

“Vai ter áreas que produzem muito mais que isso, então não há problemas. Mas há solos que já produzem essa quantidade mínima, onde não deveria ser mexido”, pondera o engenheiro.

Mais fertilizantes, mais impactos

A avaliação de que será necessário dobrar o uso de fertilizantes até 2050 para suprir a demanda de nutrientes que o solo exige desconsidera o aumento natural no uso do adubo por causa do crescimento de áreas de cultivo da cana-de-açúcar. Segundo Cherubin, o fertilizante proporciona uma série de benefícios à cultura, mas é preciso evitar excessos.

“Quando aplicado [o fertilizante] em excesso, ele causa uma série de problemas. É como se fosse a diferença entre o remédio e o veneno”, compara Cherubin.

O engenheiro explica que os fertilizantes fornecem os mesmos nutrientes que a palha, mas a diferença é que são solúveis, ou seja, acabam escorrendo com mais facilidade durante chuvas – principalmente se o solo já está com alguma erosão – indo para rios e causando até mortandade de peixes. Além disso, parte do nitrogênio do fertilizante vai para a atmosfera durante a aplicação na cana, situação que polui o ar.

"Podemos ter a contaminação das águas e, em casos mais extremos, a eutrofização, que aumenta a carga de nutrientes e faz crescer plantas aquáticas, tirando o oxigênio das águas", explica.

De acordo com a pesquisa, os impactos também serão sentidos no bolso dos produtores e da própria indústria, que terá de desembolsar mais dinheiro para a compra de fertilizantes. "Sempre tentamos uma relação balanceada entre os benefícios para a indústria e produção da energia renovável", finaliza Cherubin (G1, 17/8/19)