04/11/2021

Vacas que emitam menos metano são desafio para cientistas

Vacas que emitam menos metano são desafio para cientistas

GADO PASTO Foto CNN

Agricultura e pecuária geram 40% do metano vinculado à atividade humana.

Quando observamos uma vaca ruminando de maneira tranquila e silenciosamente em um pasto é difícil imaginar que o animal esteja prejudicando o meio ambiente com a liberação de metano.

Embora seja verdade que os bovinos que pastam ajudam o planeta renovando os prados que absorvem CO2, em geral a agricultura é responsável por 12% das emissões de gases do efeito estufa no mundo, principalmente o metano, o segundo gás mais nocivo depois do dióxido de carbono.

A agricultura e a pecuária geram 40% do metano vinculado à atividade humana. O restante procede principalmente do setor de gás.

Isto se deve, sobretudo, ao processo de digestão dos ruminantes, que liberam suas emissões ao arrotar, ao contrário da crença popular que atribui o fenômeno à flatulência. Um total de 95% das emissões de metano do gado procede de suas bocas ou narinas.

As pesquisas, públicas e privadas, intensificam as iniciativas para remediar o problema, mas uma solução ainda está longe de ser implementada nas fazendas.

O grupo americano Cargill desenvolve um projeto com a empresa emergente britânica Zelp sobre um dispositivo em forma de cabresto. O mecanismo, colocado acima das narinas das vacas, filtra o metano para transformá-lo em CO2, cujo efeito de aquecimento de cada molécula é muito menor que o de uma molécula de metano.

"Os primeiros dados são interessantes, com reduções de emissões de metano à metade", destacou recentemente à AFP Ghislain Boucher, diretor do serviço de ruminantes na fabricante de alimentos para animais Provimi (filial da Cargill).

O aparelho, no entanto, ainda precisa ser testado "em condições reais", antes de uma possível comercialização no fim de 2022, ou em 2023.

A curto prazo, a Cargill começa a vender no norte da Europa um complemento alimentar químico, o nitrato de cálcio: 200 gramas na ração diária permitiriam reduzir as emissões de metano em 10%.

O custo é avaliado "entre 10 e 15 centavos por vaca e dia", informou Boucher.

De acordo com um estudo americano, o potencial das algas vermelhas como complemento alimentar é muito superior, com reduções das emissões que podem alcançar mais de 80%. Caso os resultados possam ser reproduzidos, seria conveniente desenvolver o cultivo de algas vermelhas, principalmente perto das fazendas, segundo cientistas californianos.

Mas também é necessário observar como vão reagir os fazendeiros, que terão que pagar mais caro sem melhorar os benefícios econômicos dos animais, exceto se forem remunerados na forma de créditos de carbono, por exemplo. E também deve ser considerado o que farão os consumidores, preocupados com os alimentos ingeridos pelos bovinos que acabam em seus pratos.

 Os especialistas entrevistados pela AFP concordam que, no momento, já seria possível reduzir o número de animais considerados improdutivos, por exemplo, antecipando a idade na qual as vacas têm seu primeiro bezerro.

Um relatório do programa da ONU para o meio ambiente afirmou em maio que as soluções tecnológicas têm um "potencial limitado" para reduzir de forma significativa as emissões do setor.

O documento recomendava a tentativa de mudar alguns hábitos, como a redução do desperdício de alimentos, melhorar a gestão das fazendas e a adoção de uma dieta com menos carne e laticínios (AFP, 3/11/21)


Brasil terá tempo para se adaptar a acordo de redução de metano, diz Mourão

País assinou na COP26 acordo que prevê corte de 30% das reduções globais do gás até 2030.

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou nesta quarta-feira (3) que o Brasil terá um prazo para adaptar sua agropecuária ao Compromisso Global sobre Metano.

O objetivo do acordo, assinado pelo país durante a COP26, é reduzir 30% das emissões globais de metano até 2030, em comparação com as emissões de 2020. No total, 96 países aderiram ao compromisso.

"Então temos um prazo para ir nos adaptando. E grande parte dos produtores já trabalha no sentido de fazer a coleta dos dejetos [do gado] e consequentemente depois a queima dos mesmos de forma que não contaminem a atmosfera", afirmou Mourão, ressaltando que o problema da emissão de metano está associado, principalmente, aos excrementos da pecuária.

Ele também lembrou que o acordo internacional prevê financiamento para que os países emissores do gás se adaptem.

"A questão do metano está ligada aos excrementos da pecuária, principalmente. Nós temos um rebanho bovino enorme, então vai ter que haver uma adaptação, um planejamento para isso. Já existem empresas que fazem a mitigação dos dejetos do gado", disse Mourão, ao chegar no gabinete da vice-presidência.

"Nos nossos quartéis, quando éramos um Exército quase todo a cavalo, a gente já fazia isso. Então existe know how, é só todo mundo se adaptar, uma questão de mitigação. E tem recursos envolvidos aí, pelo o que eu vi da ordem de US$ 12 bilhões, que estariam envolvidos para auxiliar os países nesse processo".

 Os signatários do Compromisso Global sobre Metano representam pelo menos 46% das emissões do gás e dois terços do PIB global, segundo análise do WRI (World Resources Institute). As emissões globais de metano também estão ligadas a fontes de energia fósseis como carvão, petróleo e gás. O acordo prevê a revisão anual do progresso da meta em encontro com ministros dos países signatários.

Maior exportador de carne bovina do mundo, o Brasil resistia ao acordo, que implica a revisão de processos na pecuária. Segundo fontes ligadas ao alto escalão do governo federal, a pressão dos Estados Unidos nas últimas semanas foi decisiva para a adesão, que teve a concordância dos ministérios do Meio Ambiente, das Relações Exteriores e da Agricultura.

Cerca de 70% das emissões do gás no Brasil estão concentradas no setor agropecuário, segundo dados do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa).

Segundo a Embrapa, a maior parte das emissões de metano do setor agropecuário se deve à fermentação entérica dos bovinos, mas o uso de fertilizantes nitrogenados também gera emissões.

A atenção global para as emissões de metano disparou em agosto, quando o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU) revelou que o metano é o segundo gás que mais afeta o clima global, respondendo por 0,5ºC do aquecimento global de 1,1ºC experimentado desde 1900.
O metano também é uma aposta para uma ação climática de curto-prazo.

Nesta quarta, Mourão declarou ainda que o governo brasileiro "está empenhado" e de acordo com o objetivo da comunidade internacional de impedir um aumento da temperatura na terra além de 1,5ºC. "[O aquecimento global] vai prejudicar países que têm oceano, vai prejudicar a questão da agricultura, ou seja, vai dificultar a vida aqui na Terra. Então o Brasil está fazendo a parte dele nesse sentido".

O vice negou ainda que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha ficado "isolado" durante a cúpula do G20, realizado em Roma nos dias 30 e 31 de outubro.

Durante o encontro, Bolsonaro teve poucas reuniões bilaterais e não participou de visita organizada pelo premiê italiano, Mario Draghi, à Fontana de Trevi.

"Não vejo dessa forma [que Bolsonaro tenha ficado isolado], o G20 é uma reunião densa. Óbvio que existem as discussões técnicas antes, mas quando você reúne os representantes das 20 maiores economias do mundo, já vem com a agenda pré-preparada. O presidente participou, fez um discurso que eu considerei muito bom, no sábado [30] de manhã. Um discurso colocando de forma muito clara quais são os nossos objetivos, então essa questão de reuniões bilaterais acho que ali naquele momento não foi previsto", afirmou Mourão (Folha de S.Paulo, 4/11/21)