04/02/2019

Veja as expectativas de economistas sobre o novo governo 1 mês após a posse

Veja as expectativas de economistas sobre o novo governo 1 mês após a posse

Legenda: O presidente da República, Jair Bolsonaro, cumprimenta o ministro da Economia, Paulo Guedes, durante a cerimônia de posse ministerial, no Palácio do Planalto, em Brasília

 

G1 voltou a ouvir 6 analistas sobre a capacidade do governo Bolsonaro para promover a retomada do crescimento, aprovação de reformas, reequilíbrio das contas públicas e geração de empregos.

A posse de Jair Bolsonaro na Presidência da República completou um mês na quinta-feira (31) e, após os primeiros dias de mandato, economistas seguem acompanhando com atenção a condução da pauta econômica pelo novo governo.

Em novembro de 2018, 30 dias após a eleição do novo presidente, o G1 ouviu 6 economistas sobre suas expectativas a respeito da capacidade do governo de promover o crescimento da economia, conseguir aprovação de reformas, reequilibrar as contas públicas e gerar mais empregos. Na sexta-feira (1º), a reportagem ouviu novamente os mesmos profissionais.

Participaram do levantamento Alessandra Ribeiro (Tendências Consultoria), Alex Agostini (Austin Rating), André Perfeito (Necton), José Francisco de Lima Gonçalves (Banco Fator), Luís Paulo Rosenberg (Rosenberg Associados) e Marcel Caparoz (RC Consultores).

Além de responder "sim" ou "não" às perguntas, os economistas também fizeram análises sobre as questões levantadas. Veja abaixo:

Crescimento da economia:

Da mesma forma que no levantamento anterior, 5 dos 6 economistas entrevistados responderam que a expectativa é que a economia cresça durante o governo Bolsonaro.

Alex Agostini, da Austin Rating, afirma que o primeiro mês não trouxe motivos para alterar as previsões para o crescimento econômico dos próximos anos. “O governo não adotou nenhuma postura diferente até o momento”, comenta.

Alessandra Ribeiro, da Tendências, também afirma que não houve medidas do governo que mudassem suas estimativas. “No primeiro mês de governo, as sinalizações do encaminhamento da agenda econômica, do que é prioritário, veio em linha com o que a gente estava esperando.”

Já Luis Paulo Rosenberg, da Rosenberg Associados, avalia que as estimativas são baseadas na condução dos trabalhos da equipe econômica. “A gente vê um paradoxo. O governo revela sempre uma postura mais amadora, desconectada, com alguns personagens quase que bufões falando várias coisas retrógradas. Mas, ao mesmo tempo, vemos uma consistência perfeita entre discurso e postura da equipe econômica”, diz.

Marcel Caparoz, da RC Consultores, aponta que a expectativa de crescimento se apoia no fato de que “a confiança de todos os setores está em alta”. Agostini também comenta esse indicador. “Os indicadores antecedentes revelam maior confiança. Portanto, a economia, naturalmente, deverá crescer mais via demanda e investimentos.”

No entanto, Caparoz ressalva que a recuperação deve ser lenta, e afirma que “grandes investimentos só sairão do papel com uma sinalização mais efetiva por parte do governo”. Sobre essa questão, José Francisco de Lima Gonçalves, do Fator, diz: “eu não tenho dúvida de que o grau de incerteza que a gente vive inibe a maior parte das iniciativas.”

Gonçalves aponta ainda que o crescimento depende de uma série de fatores, e eles não estão relacionados ao governo. “Existe um pedaço de crescimento que vai acontecer praticamente independente do que o governo faça, que é uma recuperação que se relaciona com a estabilidade da inflação – e, portanto, juros baixos –, e o ainda elevadíssimo nível de ociosidade”, diz o economista.

André Perfeito, da Necton, acrescenta que o crescimento da economia será reflexo de uma “base de comparação muito baixa”, após as perdas da crise.

Rosenberg também comenta outro fator que deve ajudar a economia e que não depende do governo: a mudança do cenário externo neste começo de 2019. “Há um mês, a gente tinha a preocupação muito grande de que a economia norte-americana mostrava sinais de desaquecimento e o banco central (Fed) falava em subida de juros”, lembra ele. Na reunião deste mês, o Federal Reserve manteve a taxa de juros nos Estados Unidos e sinalizou que pode interromper (ou até reverter) o ciclo de altas.

Reformas econômicas

No levantamento anterior, 2 economistas disseram que o novo governo não será capaz de levar adiante a aprovação de reformas econômicas. Um mês após a posse, o número mudou para 1.

O “capital político” de Bolsonaro após a vitória nas eleições é apontado como um dos pontos que pode ajudar na aprovação das reformas. “Um presidente eleito com a maioria do eleitorado traz um cacife muito polpudo”, diz Rosenberg.

“Mesmo com as investigações envolvendo assessores do senador Flávio Bolsonaro, o impacto sobre o governo Bolsonaro ainda é reduzido”, complementa Caparoz. Sobre essa questão, Rosenberg diz que “esses percalços consomem uma parte do dote inicial dele, é inegável. Mas, por outro lado, os acertos vão acrescentando fichas, e nesse ponto, por enquanto, ele (Bolsonaro) está no campo positivo.”

Agostini também diz que a série de denúncias sobre o filho do presidente “por hora, não deve afetar as relações com o Congresso de forma que o governo tenha que negociar as reformas estruturantes, como a da Previdência”.

Outro fator visto como positivo é a distância da nova corrida eleitoral (diferente da época em que Michel Temer tentava aprovar a reforma da Previdência, em ano de eleições).

Os analistas, no entanto, apontam que ainda há dúvidas sobre o tipo de reforma que será aprovada e seus efeitos sobre a economia.

“Do ponto de vista técnico, ainda tem muita discussão de para onde vai a reforma (da Previdência), mas isso é um limite político. Vai sair de uma maneira mais perto de desidratada ou fatiada? Ou do sonho do mercado financeiro?”, questiona Gonçalves.

Perfeito também levanta dúvidas. “Ainda tem vários pontos que são objetos para se pensar. A questão dos militares, por exemplo, se serão incluídos. Não vai ser tão fácil quanto o mercado está pensando.”

Reequilíbrio das contas públicas

Assim como no levantamento de novembro, 2 economistas não acreditam que o governo de Bolsonaro vá terminar com as contas públicas equilibradas. Os analistas apontam que o programa de privatizações deve ajudar nas contas do primeiro ano de governo Bolsonaro, mas os efeitos positivos dessas medidas são temporários.

“Devem conseguir muita receita vendendo ativos, e podem até conseguir zerar o déficit neste ano. Mas à custa de receitas não recorrentes. Não é uma coisa sustentável”, diz Perfeito.

“Se eles venderem os campos de petróleo ligados ao contrato de cessão onerosa com a Petrobras, talvez consigam reduzir muito o déficit primário. Vão soltar rojões e dizer que ‘basta ter vontade’. Mas no ano que vem não vai ter outro bloco desse pra vender”, concorda Gonçalves.

Mas Caparoz diz que há dúvidas inclusive sobre as chances de avanço da agenda de privatizações. “O recente desastre da Vale em Brumadinho pode dificultar a pauta de privatizações levantadas pelo ministro Paulo Guedes. Uma ala da oposição já tem levantado esta bandeira”, comenta.

Na discussão sobre o reequilíbrio das contas, Rosenberg acrescenta que a manutenção dos juros baixos deve ser outro fator de ajuda. “Os juros são a principal despesa do governo.”

Ribeiro estima que as contas públicas voltem a uma situação positiva apenas em 2026 – ou seja, após o fim do mandato de Bolsonaro. Mas ela acredita que o atual governo é que “vai implementar as bases para que isso aconteça, com medidas para fazer com que isso se materialize”.

Geração de empregos

Dos 6 entrevistados, 5 responderam que o novo governo conseguirá gerar mais empregos – mesmo cenário que na pesquisa anterior.

Rosenberg comenta os efeitos que a flexibilização das leis trabalhistas deve ter sobre a geração de vagas formais, lembrando a promessa de governo de criar a carteira de trabalho verde e amarela, com regras mais flexíveis.

“A sociedade sempre tem que escolher entre salários mais altos ou salários mais baixos com mais empregos. Isso é uma imposição aritmética. Não há como forçar o empresário a contratar o trabalhador que vai gerar um produto que traz menos retorno do que o que ele custa”, analisa Rosenberg.

Os economistas falam ainda sobre a importância da confiança na economia para que o mercado de trabalho se recupere com mais vigor. “A confiança elevada do empresário é chave para a retomada das contratações. Falta o governo entregar a sua parte, com reformas e reequilíbrio orçamentário”, opina Caparoz.

Também falando sobre a importância da confiança, Gonçalves explica que não basta o governo cortar os custos sobre a folha de pagamento para o empregador voltar a abrir vagas. “Se cortar a folha, aumenta a margem de lucro das empresas. Mas o que vão fazer com esse aumento? Contratar alguém se não têm convicção de para que lado (a economia) vai?”.

Ribeiro diz que, apesar da expectativa de geração de empregos, a projeção é que a taxa de desocupação recue de forma bastante lenta, pois, em momentos de recuperação, “muita gente que saiu do mercado de trabalho volta” a procurar ocupação.

A economista se refere ao que o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) contabiliza como “desalentados”. Perfeito também comenta essa questão: “a taxa de desemprego melhorou porque tem gente que não está procurando emprego”, diz (G1, 3/2/19)