Verdades e mentiras sobre os carros flex - Por Douglas Mendonça
A tecnologia flex (bicombustível), que permite aos automóveis usarem gasolina ou álcool (ou a mistura de ambos), estreou no país em 2003, há exatos 15 anos.
O modelo que inaugurou essa nova fase na indústria automotiva brasileira foi o Gol 1.6 TotalFlex. Desde então, o mercado tem criado diversos mitos sobre como os donos desses carros deveriam agir.
Hoje, cerca de 90% dos automóveis comercializados com motores do "ciclo Otto" (à explosão) dispõe da tecnologia. Por isso, vale a pena alertar os donos sobre bobagens que ainda circulam por aí.
A primeiro delas diz respeito ao "vício" que os carros flex adquirem: "especialistas" de fim de semana afirmam que, se você usa apenas um tipo de combustível, etanol ou gasolina, o motor fica "viciado". Quando você tenta utilizar o outro combustível, o motor não aceita.
É uma grande besteira! Motor não é gente e não fica viciado em coisa alguma. Quem gerencia o combustível que está sendo queimado é o sistema eletrônico de comando da injeção, e esse, tenha a certeza, não se vicia. Você pode usar, por exemplo, álcool durante 10 anos e passar para a gasolina que o sistema detectará o combustível e fará as correções.
Ainda, para que não exista o tal vício, esses "técnicos" recomendam que, pelo menos uma vez por mês, você mude o combustível. Bobagem também, pois sempre que você trocar de combustível, o sistema eletrônico corrigirá o ponto de ignição e a quantidade de injeção.
Outra conversa mole é que se deve deixar o tanque praticamente esgotado para trocar o combustível. Dizem que eles não se misturam e que poderia trazer problemas futuros ao motor. Balela. Etanol e gasolina são totalmente miscíveis entre si e o sistema eletrônico de injeção, através da sonda lambda existente no escapamento, sabe exatamente qual é a mistura no tanque, fazendo as devidas correções na ignição e na injeção. Tudo sem poluir mais e tirando do motor a melhor performance.
Já ouvi também "experts" dizerem que, no carro flex, o primeiro abastecimento deve ser sempre com gasolina. Não faço a menor ideia para que isso serviria, mas é outra grande mentira. O primeiro abastecimento pode ser feito com qualquer um dos dois combustíveis, sem problema algum.
Outra coisa que se fala é que, quando se usa apenas etanol, a troca de óleo pode ser alongada, pois esse combustível contamina menos o lubrificante. Essa conversa tem até um fundo de verdade, mas é difícil saber quanto o lubrificante está contaminado. Por isso, é importante seguirmos as recomendações do fabricante manual do proprietário. E basta.
A pergunta que não quer calar é: qual o combustível mais vantajoso na hora do abastecimento? Uma continha fácil, que não é exata, mas serve de referência, é você multiplicar o valor da gasolina por 0,7. Se o resultado for igual ao valor do álcool, você pode utilizar qualquer um dos dois, porque para seu bolso não fará diferença.
Vale lembrar que o etanol melhora o desempenho e a gasolina proporciona uma autonomia maior. Se o resultado dessa multiplicação do valor da gasolina por 0.7 for inferior ao preço do etanol na bomba, nesse caso vale mais a pena o biocombustível. No entanto, se o resultado for superior ao preço do álcool, abasteça com gasolina, pois será melhor para o seu orçamento.
Vamos a um exemplo prático? Se você, por exemplo, para em um posto que a gasolina custa R$ 4 o litro e você multiplica por 0.7, o resultado seria 2,8. Se nesse mesmo posto o etanol custar menos de R$ 2,8, utilize o álcool. Em caso contrário, se o etanol custar mais de R$ 2,8, escolha a gasolina que a vantagem ficará para o seu bolso.
É importante lembrar que a grande vantagem do carro flex é justamente a possibilidade de o proprietário escolher o combustível que lhe convenha mais financeiramente.
A potência e o torque máximo do motor ficam maiores quando se abastece com etanol. Para a gasolina, a grande vantagem fica no menor consumo e, consequentemente, maior autonomia.
É bom ficar claro também que um motor flex nunca obtém a melhor performance ou consumo tanto na gasolina quanto no álcool. Como é um motor concebido "na média", os propulsores flex não oferecem os menores resultados de potência ou consumo que conseguiríamos obter com um motor alimentado unicamente com gasolina ou um outro concebido unicamente para etanol.
Mas a vantagem do flex, como o próprio nome diz, está na flexibilidade de se utilizar o combustível que estiver na bomba e esse, de fato, é um conforto para o consumidor, principalmente quando há crises no fornecimento de um dos dois combustíveis. Você nunca fica na mão (Autoesporte, Assessoria de Comunicação, 4/1/19)